Eu já entendi que as pessoas gostam muito dos temas envolvendo a saudade. É uma velha amiga nossa, herança lusitana, um misto de melancolia, vontade de ver de novo, recordação, lembrança, tudo girando em torno da memória, pensamentos que ficam guardados nos refolhos do coração, nos escaninhos da nossa alma: afinal, só temos saudades das coisas boas, porque tudo aquilo que nos acontece de ruim, o melhor mesmo é descartarmos das nossos pensamentos, sepultarmos nos escombros do passado, para não sofrermos duplamente.
Com a saudade é diferente: a dor que a gente sente é uma espécie boa de dor, daquela dor que chega suavemente, machuca só um pouquinho, por vezes traz alguma lágrimas aos nossos olhos, um sufoquinho na garganta, um apertozinho no peito, tudo assim meio que miudinho, gostosinho de sentir.
A saudade é um sentimento nosso, particular, com selo próprio, ninguém pode sentir por nós: é a recordação do primeiro brinquedo, da primeira travessura, do primeiro beijo, da formatura, daquela lua que brilhava na noite daquele encontro, aquela rua onde vivemos a infância, a primeira comunhão, tanta coisa que vai ficando armazenada, aquela música, aquele perfume, aquele tempo doce...saudade, bendita saudade que nos submete a um doce e suave jugo, como uma dolente e inesquecível guitarra portuguesa.