Todas as vezes que me sinto mais próximo de ti eu venho a este parque, aqui neste cantinho de silencio sem fim e me recosto àquelas pilastras que sustentam a pequena luminária a poucos passos dos cinco carvalhos que tu vês nesta foto.
É aqui neste canto que eu me abandono nos teus braços, como se tudo fosse verdadeiro, real, como quando eu era entre os braços da minha mãe...
Na última vez que estive aqui encontrei sobre uma saliência daquela última pilastra, duas róseas asas de borboletas, sobras de um frugal jantar consumido às pressas, talvez por um melro, ou outro pássaro de passagem. Quem sabe quantos céus haviam sulcado as róseas asas que agora jaziam abandonadas sobre o vermelho tijolo da pilastra. E quanta dor havia causado aquele negro pássaro à pobre borboleta, transformada em repasto noturno numa noite de outono silencioso?
Hoje, no finalzinho da tarde, voltei aqui neste canto para encontrar-te, mas tu não estavas, e não mais encontrei as asas da desafortunada borboleta.
Já é noite. Dentro em pouco quero recolher-me ao leito para repousar. Estou cansado depois de um dia de trabalho estafante.
Desejo-te um bom domingo e uma serena noite, minha doçura, e não trabalhe tanto como este teu poeta.
Eu te amo!
Enzo
(carta da série “Um amor siciliano”, meu romance inacabado que relata o amor por correspondência vivido por Clara e Enzo).