Tua mensagem é semente da melhor qualidade. Na certa, dependendo do solo, terá inúmeras reações. Eis, infelizmente (ou não), a que mais ocorrerá: esculacho.
A tese que levantas – “prevalecem os sacanocratas” – se me parece deveras plausível. Brasil afora, é bem verdade, há exceções. Todavia, mesmo sem, digamos, um “saconozômetro”, esse pode ser nosso “espírito absoluto”. Que pena!
É tanta sacanice que se chega a premiar aquele apanhado em um ato correto. Não há ninguém que peça: “dê-me deste pão e deste vinho”. De modo que vamos nos arrastando em auto-enganos, hipocrisias e cinismos. Provas incontestes desse descalabro são as belas mentiras dos sicofantas.
Poucas, pouquíssimas, são as mentes equilibradas capazes de distinguirem o que, de fato, é natural e necessário tanto daquilo que, embora seja natural, não é necessário, como do que não é nem natural e nem necessário.
Sacaneia-se na vida, sacaneia-se na arte, importante é se dar bem. O outro, portanto, não passa de um meio através do qual podemos chegar a nossos objetivos. Da política à religião, quanta sacanagem! Do trabalho ao lazer, quanta sacanagem! Do sexo ao amor, quanta sacanagem! Do ler ao estudar, quanta sacanagem! Da simples seleção para alguma coisa a concursos sérios, quanta sacanagem! Do senso comum à ciência, quanta sacanagem! Tu, amigo, estás certo: “prevalecem os sacanocratas”.
Os sacanas são doentes, são pervertidos. Orgulham-se do que fazem, chegando, amiúde, a assumirem os erros. Como diria mestre Jabor, “quase numa modéstia ao avesso”.
Na “sacanocracia”, é claro, impera a mentira. Assim, se os interesses do sacana estiverem em jogo, sobretudo, forem ameaçados, vira um bicho, transforma-se em ator. O verdadeiro sacana jamais se julga como tal, parece se sair bem em tudo, sempre tem razão e muitos são louvados como paradigmas da moralidade.
Sacana e canalha são irmãos gêmeos. Os tipos estão aí, mas o pior mesmo é o sacana revolucionário, o sacana de esquerda, o sacana progressista. Se flagrado, não hesita em berrar: “que mal estou fazendo?” Essa execrável espécie, na sacada brilhante de Arnaldo, “tem a grandeza da vista curta, o encanto dos interesses mesquinhos, a sabedoria das toupeiras, dos porcos e dos roedores”.
Sem dúvida, amigo Cocriti, serás esculachado. Afinal, estamos cercados de sacanas por todos os lados. Ouço nitidamente o barulho dos cascos de seus animais marchando contra ti. Eles são audaciosos, prepara-te.