Querida, nessas linhas eu me desnudo, nas últimas horas da madrugada me desvelo em cuidados, confundo-me com a brisa que anuncia um sonho, que é você. Seu sono voa solto, eu fito suas costas macias e despudoradamente brancas, num anúncio de alva beleza; contemplo os movimentos de seus olhos perdidos no reino de Orfeu, talvez num campo, talvez no Oriente. Os Mil Contos não conseguem a síntese de sua beleza, querida, nem de longe.
Descrevo nestas poucas palavras o indizível medo de perder sua presença, a sensação de medir todas as suas curvas e de conhecer todos os segredos deste seu corpo. Nestas poucas linhas mora meu enlevo, querida, mora toda uma vida de abandono.
Não poderia ser diferente, pois que nunca será todo dia um dia só em sua presença, mas sim vários de uma coleção de distintos sentidos, de tempos estanques mas ligados indissolúvelmente pelos seus sorrisos e pela sua delicadeza.
Espero que quando acordar leia o que escrevo, que o vento da saudade não carregue este papel para longe de seu alcance, que meu receio não afaste você de minha realidade.
Aguarde minha volta, de seu eterno e aprisionado amor