Querida, volto a lhe escrever depois de longo e tenebroso Inverno, que não mais existe nestas paragens. Lembra da última neve que compartilhamos? Nem no Ártico mais se ouve falar. Escrevo para lhe deixar um aviso: Migre, mude, saia de onde está. Não permaneça, seja dialética, querida, mude como os humores de seu corpo destemperado pelas mudanças hormonais que causaram em mim mais de um hematoma, saia de seu conformismo cristão-judaico, leia mais Engels e saiba mais sobre a fluidez do cosmo em sua essência. Assim, talvez , consiga deixar de ser tão mesquinha, comedida e falsamente econômica em suas atitudes, tão contida em suas secas de todos os dias e noites, talvez se transforme este jeito pragmático com que visa os olhos da vida e , supremo milagre, você volte, como a chuva que retorna ao sertão e o mar reflui em sua ressaca, talvez eu disse, você volte a sonhar.
Recomendações aos ciclópicos irmãos e à adorada mãe.