CIDINHA: uma hora da manhã. certamente deves estar dormindo. chego da rua e meio cansado tento te escrever. algo que saia da emoção mas que não se me escape do racional. tenho-te presente nessas horas, nesses dias, nesta ocasião singular de um homem que não quer jamais escapar de si mesmo.revejo sobriamente o que falamos um ao outro e não encontro nada que deponha contra nosso tribunal interior.sei que quero conquistar-te de alguma maneira, mas não com maneirismos, facilidades de varejo ou de atacado.desconfio que me queres conquistar, a despeito dessa pedra ingente que te acompanha sem maiores temores ou cautelas.sei também, que no fundo do fundo do fundo, não há profundidade que escape do nosso inconsciente, do qual nada sabemos, nem tememos encontrar solução.esta é a batalha, a grande batalha da conquista: quando um esquece a guarda, o outro ataca consequente; esta a regra do combate, o bom combate onde os amantes se internalizam de tal modo que sequer imaginam onde é mesmo, realmente, a arena da rinha.ah... quisera adivinhar o que está morando hoje no profundo mistério de tua imaginação; ah... pudera penetrar abruptamente o cenário que não consigo sequer propor a mim mesmo.mas deve ser tudo imaginação; deve ser tudo ilusão barata de um velho homem fatigado pela velha e batida lição do dia-a-dia.não vou depor as armas. sejam quais forem. não vou declinar do meu intento. nem vou clamar por deuses em quem não acredito, desde que não existam por si mesmos.vou quedar-me apenas esperando. como quem espera a chuva anunciada. como quem anseia por espirrar quando de fato o espirro chega voluntariamente. eis porque te gosto demais.
WALTER.
Camaragibe, fevereiro de 2008