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Cartas-->POESIA É AMOR, SOU EU, É VOCÊ! -- 21/03/2008 - 19:17 (Ivone Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POESIA É AMOR, SOU EU, É VOCÊ!
(Ivone Carvalho)

Poetas são pessoas como você, que além de definir o "ser poeta", é poético ao comentar a obra de alguém como eu, que tem consciência de que ora sou, ora estou poeta.

Penso que o verdadeiro poeta não necessita grandes sensações, sentimentos ou acontecimentos para compor poesias. Ele rima a todo momento, transformando tudo que vê, sente, toca, ouve, imagina, sonha, enxerga, em poesia. Não há tempo ruim para ele. De uma pedra (no meio do caminho havia uma pedra..), uma gota d`água ou um cálice (Chico Buarque), a fumaça de um incenso, a partida, o nascimento, o sonho, as mãos (as de Eurídice!), enfim, de tudo ele consegue fazer poemas que se eternizam.

Tenho repetido insistentemente que todos nós somos poetas, alguns em algum momento das nossas vidas; outros, em todos eles. Tenho insistido que a poesia está na alma, é o grito que o coração quer dar e por algum motivo o sufoca, é o brilho que os olhos não conseguem revelar, é o tremor do corpo emocionado, as palavras que são murmuradas talvez até porque o próprio poeta tenha medo de ouvi-las. A poesia é a língua-mãe, o idioma global porque é entendido por todas as raças, em todas as idades, não importando o sexo ou o poder aquisitivo de quem a escreve ou a lê.

E ratifico tudo que tenho pregado sobre a poesia, porque tantas e tantas vezes só ela é minha companheira leal, permitindo-me extravasar o que sinto necessidade de gritar, ou esconder aquilo que nem eu mesma quero ouvir ou acreditar.

Mas coloco em dúvida, algumas vezes, se posso me considerar uma real poetisa. E essa dúvida surge quando sinto a inspiração bloqueada, quando sinto necessidade de expor algo que sinto ou que eu quero fazer o leitor sentir, traduzindo seus sentimentos ou os meus, e não consigo.

Algumas vezes tenho a sensação de que não sou eu quem escreve. É como se alguém soprasse para mim o que devo escrever, tal a facilidade com que nasce uma poesia, ficando pronta em pouquíssimos minutos. Algumas delas, ao reler, eu me pergunto como surgiu tal inspiração, pois muitas vezes ela não reflete o meu estado de espírito do momento.

Outras vezes, porém, ao reler um poema que escrevi, eu mesma não acredito ter sido capaz de traduzir com tamanha perfeição o que ia na minh’alma ou o que eu queria transmitir.

E tudo isso me faz me sentir poeta.

Porém, quando tenho vontade de escrever e não consigo ou quando escrevo algo que nada tem a ver com os meus sentimentos, emoções ou situações vividas no momento que escrevi, não traduzindo o que eu realmente sentia necessidade de expor, contradizendo até, algumas posições ou formas de agir que tanto defendo, nesses momentos eu prefiro dizer que não sou poeta.

Porque eu vejo o poeta de verdade escrevendo a todo momento, inspirando-se o tempo todo, não temendo magoar ou ser julgado ao escrever o que sente vontade, não se preocupando com a interpretação que o seu leitor dará à sua obra, mas, apenas, arrancando do fundo da sua alma aquilo que ele sente necessidade de passar, de materializar através das palavras e das rimas.

Mas tudo isso não importa. O relevante, o vital, o delirante, não é ser ou estar poeta. O importante, na verdade, é o SENTIR A POESIA, a que lemos, a que escrevemos, a que vemos na vida e na natureza, a que vivemos em cada instante de nossas vidas.

A poesia nada mais é do que a essência dos nossos sentimentos, a beleza que dá brilho ao nosso olhar, o som que penetra os nossos ouvidos tocando o nosso coração, o tremor da nossa pele, sentido ao tocarmos, com suavidade, outra pele, outras mãos. É o perfume que agrada o nosso olfato, envolvendo toda nossa matéria e indo de encontro ao nosso imo, tornando-se inesquecível.

Poesia é sentir cada célula do nosso corpo se multiplicando aceleradamente, transformando o amor que nos dá vida no amor que nos faz viver.

Poesia é a transformação de uma lágrima que se liberta da nossa alma, numa gota de orvalho que beija a pele aveludada de uma rosa.

É o colorido das borboletas enfeitando os nossos pensamentos, somando cores leves e delicadas à nossa aura, dourando a redoma que nos protege.

É o som de harpas angelicais penetrando nosso coração através da audição da nossa alma, homenageando o Amor que nos envolve, que sentimos, que queremos dar com toda isenção de troca, seja a quem amamos, seja a cada um dos nossos irmãos.

Poesia é prece, é oração. É a palavra de Jesus no nosso coração. É o ensinamento, o aprendizado, o desprendimento, a liberdade que existe em cada um de nós, para sentirmos, pensarmos, ousarmos, doar-nos, praticarmos, enfim, todos os atos que nos torna poetas na mais profunda essência do termo, desmistificando o único sentimento que não possui definição, por ser a própria definição da vida: O AMOR!

Poesia não carece de rima ou harmonia. Dispensa versos ou estrofes. Não tem classificação ou propriedades.

Porque poesia é, simplesmente, a transmissão do que sentimos, através de palavras, de um olhar, de uma atitude, de um gesto, de uma lágrima, de um sorriso, de um agradecimento, de uma oração, de um sonho, de uma ilusão, de um ideal, de um medo, de um pesadelo, de uma esperança, de uma realidade, de uma carícia, da ternura, do AMOR!

Poesia é o que somos em nosso núcleo, a nossa essência, o nosso espírito, o Deus que existe dentro de nós!

21/03/2008


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