Quero parabenizar o professor Nelson Lehmann por suas observações e sugerir uma maior discussão da obra de Eric Voegelin. Seria Voegelin um liberal, um conservador ou uma espécie de democrata cristão autoritário? E o que significa exatamente a crítica desse filósofo teuto-americano ao que interpreta como “gnosticismo”?
Lembrem-se os colegas que a Gnose foi a grande competidora intelectual do Cristianismo nos primeiros séculos de nossa era, embora tenha ela, a Gnose, sob influência do dualismo da velha religião iraniana, continuamente inspirado as heresias dualísticas ou maniqueístas que se desenvolveram paralelamente ao desabrochar da teologia cristã de raízes greco-judaicas. Um exemplo desse dualismo é a mania de insistir na dicotomia idealismo, misticismo ou espiritualismo, de um lado, e materialismo dito científico do outro.
A título de curiosidade, quero mencionar que nos meus tempos de adolescência universitária, tive um mestre, o professor Leônidas de Rezende, que repetia sem parar a idéia central de uma dicotomia entre os “bons” pensadores “monistas” e os “maus” pensadores “dualistas”. O próprio Leônidas de Rezende acabou encontrando sua Thermópilas por obra de Getúlio Vargas, mais influenciado pelo conceito comtiano de Ditadura Republicana do que por qualquer filosofia de cunho liberal-democrático. Leônidas,o brasileiro, foi demitido, preso e logo em seguida morreu.
Notem ainda que, juntamente com Moisés, o Buda Gautama e Sócrates, Cristo só nos é conhecido pelo que sobre ele escreveram seus discípulos, os apóstolos cristãos – salvo uma breve referência feita pelo cidadão romano Flavius Josephus, que também era judeu. Notem igualmente que o que seria talvez o maior filósofo cristão, Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), foi inicialmente maniqueu, antes de se converter sob influência materna.