Durante os últimos sete anos, nesta data, externei, por escrito, a nossa conversa, as palavras que, aparentemente sozinha, eu lhe transmitia, pensando, sempre, em prestar-lhe a homenagem que fisicamente eu não posso prestar. A materialização desse nosso diálogo, tornando-o público, começou em abril de 2001 quando, para ingressar no site dos Anjos de Prata eu deveria escrever sobre o tema FAZ DE CONTA.
Escrevi, publiquei e no final do mesmo ano eu o eternizava ao incluí-lo na primeira antologia daquele grupo. Daí em diante, em todo dia quinze de abril eu me sento nesta cadeira durante a madrugada e, como se fosse o único presente que posso lhe oferecer, lhe dedico um pouco do que vai na minha alma. Claro que este não é o único dia em que converso com você, mas este é especial, porque se estivesse aqui comigo, seria um dia de festa.
Nesta madrugada, ao me sentar para falar com você, antes de abrir a tela e sem imaginar o que escrever, lembrei-me daquele caderno comprado em agosto de 1989, quando decidi que passaria a expressar, através das letras, as nossas conversas, acreditando que talvez assim eu minimizasse a imensa dor e o vazio que eu sentia desde o mês de abril. Mentalmente eu havia combinado com você que tentaria externar a minha dor dessa forma, porque precisava me sentir melhor e não estava conseguindo.
Esse é o texto que está manuscrito na primeira página daquele caderno:
"À Camila de Fátima
Filhinha, há dias que se tornam mais difíceis do que os outros. A saudade aumenta muito, a vontade de ter você comigo, em meus braços, em nosso lar, é imensa. A vontade de chorar é impossível de ser controlada.
Hoje me encontro nesses dias: penso em você o tempo todo! Parece que estou sonhando. Acredito que ainda vou tê-la. A impressão que tenho é de que estou vivendo um espaço de tempo sem você, mas que a qualquer momento você voltará.
Tenho certeza de que terei você comigo, mais dia, menos dia. Quero vê-la! Peço a Deus para que me apareça em sonho ou mesmo acordada e que converse comigo, me fale de você, onde você está, como está, quando volta, o que aconteceu de verdade para que não vivesse comigo. Estou morrendo de saudades...
10/08/89 - 5a. feira - 2:00h"
Relendo-o, agradeci, mais uma vez, a imensa bondade de Deus por ter permitido que, poucos dias depois, você atendesse o meu pedido. Sua imagem, seu rosto, seu corpo, seu sorriso, suas palavras, jamais esquecerei. Foi um presente que poucos têm o privilégio de receber, e, se o recebi, devo ter sido merecedora!
Aquela noite está viva na minha retina, no meu coração, nos meus ouvidos, na minha pele! Você respondeu a todas as perguntas que eu fizera todos os dias desde o seu nascimento. Apaziguou o meu coração, deu-me paz e serenidade. Devolveu-me a vontade de viver. Foi a primeira noite que consegui dormir após quatro meses! E dormi sorrindo, feliz, agradecendo a Deus por toda emoção e alegria que eu pude, depois de tanto tempo, sentir.
É claro que o caderno comprado para as nossas conversas, tem uma única página escrita. Eu a vi, nós conversamos, vi como está, onde está, vi seu doce olhar, seu meigo sorriso, sua Luz! Senti-me banhada por essa Luz! Seu amor, tão imenso, tão puro, tão sublime, fê-la dar a mesma alegria, dias depois, para o papai e para as suas irmãzinhas. Como somos felizes, filhinha! Como somos privilegiados!
Há 19 anos você modificou as nossas vidas, a minha vida! O seu nascimento sem vida após nove meses de gestação, que fez sangrar a minha alma, que me levou ao desespero, que me tirou o controle motor e parte da visão por quase três meses, que me exigiu o uso de psicotrópicos para dormir, me levou a estudar a vida espiritual, a mudar os meus conceitos de valor, a descobrir que a vida é eterna, que nos reencontraremos, que nada acontece por acaso. A entender que nada neste mundo vale mais do que o amor! O amor puro, o amor que nos move, nos alimenta, nos dá fé, esperança, Vida!
Dezenove anos se passaram! Se estivesse aqui, conosco, seria uma linda moça, como são as suas irmãs, com toda certeza! E hoje seria um dia festivo aqui em casa.
Porém, sei que todos os anjos amigos estão celebrando com você esta data, que o "parabéns a você" está sendo cantado ao som de liras, regido pelos Mestres que nos permitiram nos encontrarmos naquela noite.
Uno-me a essa orquestra e a esse coral, transporto-me para o seu lar, abraço e beijo a minha filhinha amada, como faria se estivesse aqui comigo.
As lágrimas que ora brotam do meu coração, são de saudade, de emoção, de vontade de senti-la junto a mim, mas também têm o sabor da certeza de que logo estaremos juntas novamente.
Parabéns, minha Camila de Fátima! Fátima, em homenagem a Nossa Senhora de Fátima que a trouxe até mim naquela madrugada, pois ela sabia que seu nome fora escolhido especialmente para ela!
Até breve, filhinha! Feliz Aniversário!
Te amo com todo amor que existe dentro do meu coração!
