É madrugada e o sol, escondido, zomba de mim. Seu sorriso faceiro, matreiro, que recorda os desenhos da minha infância, coloridos com lápis amarelos e alaranjados, revela sua ironia.
Durante todo o dia observou, imponente, a sombra que permiti me envolver. E nem me lembrei que ele estava ali, ansioso por me aquecer, por me iluminar. E me aqueceu, mesmo ciente de que eu nem me lembrava que era graças a ele que eu suportava a temperatura externa do meu corpo.
Sem sucesso, passou o dia mostrando as cores vivas que existem ao meu redor, desde a terra onde piso até o azul do horizonte.
Minha introspecção não permitiu que eu notasse a sua sinalização. Parecia-me um dia triste e escuro ou uma noite silenciosa, onde o silêncio e a solidão transformavam os meus sorrisos em lágrimas e as minhas esperanças em desilusão.
Não percebi o tempo passar, o dia acabar. E, como o sol se encontra neste momento, escondido nas trevas da noite, aqui estou eu, fugindo de mim mesma, para não cometer, mais uma vez, uma insanidade.
Mas, por que seria loucura, se a única vontade que tenho é a de correr para os teus braços, colar o meu corpo no teu, beijar a tua boca e murmurar no teu ouvido este segredo que até de mim tenho que esconder? Por que devo considerar segredo, se este sentimento que lateja dentro do meu peito está sempre revelado no brilho dos meus olhos, nas minhas palavras, nos meus versos, nas gotas que vertem quase que incessantemente, molhando a minha face, tal como a nascente que não permite ao rio secar?
Por isso zomba, o sol, da minha inércia, da venda que coloquei nos meus olhos para não ver as maravilhas que o dia me oferece, da insensibilidade que dei ao meu corpo para não sentir o seu calor, da tranca que ofertei ao meu coração para não permitir que dele saia quem ali entrou para ficar ou que algum aventureiro tente feri-lo mais uma vez.
E, neste momento, ele apenas me olha com o seu sorriso irônico, porém amoroso, e dá passagem às estrelas que, com o seu humilde tamanho, piscam para mim, como se me dissessem que também elas guardam o brilho do teu olhar para que eu possa te ver de alguma forma, acalentando a minh’alma, minimizando a minha saudade, afagando o meu coração.
Não posso prometer que amanhã pensarei mais em mim do que em ti, isso é pouco provável e quase impossível. Mas tentarei, prometo, olhar tudo que me rodeia, nem que seja para sentir o teu perfume nas flores, o teu sorriso em cada nuvem, os teus lábios no vento que afagar o meu rosto ou desalinhar os meus cabelos, as tuas mãos no meu corpo, quando o sol aquecer a minha pele, a tua voz quando os pássaros cantarem.
E quando a dor da saudade se tornar insuportável, permitirei que minha alma solte o grito que sufoco em todos os momentos, quando sinto o infinito desejo de te dizer que te amo tanto!