Cinzento está o dia de hoje. Cinza e aparentemente triste. Também assim se encontram muitos corações que não abrem suas portas para a entrada dos raios solares, dos arco-íris da vida, do colorido das flores, das cores da música e da poesia.
Cinza como as mentes que transformam a vida como se esta fosse um eterno terremoto que a tudo desmorona, destrói, joga por terra abaixo.
Cinza como corações que se transformam em verdadeiros vulcões, expelindo tão somente lavas quentes e destruidoras, que transformam em deserto todo o seu redor.
Cinza como corpos que se deixam queimar, ardendo como brasas, estancados em algum espaço, sem qualquer reação, até se transformarem em pó.
O dia cinza não nos permite ver as brancas nuvens que brincam no espaço, ora formando figuras que buscamos desvendar quais sejam, ora apenas caminhando lentamente, afirmando que tudo está em movimento.
E não nos permite ver os raios solares que se encontram tão somente escondidos, pois continuam a nos aquecer e a iluminar o nosso planeta.
E, estranhamente, nos tornamos, também, um tanto cinzas, vez que deixamos de notar que as folhas continuam verdes, o céu é sempre azul, o mar não é escuro como se apresenta e suas águas continuam límpidas dando-lhe a cor verde-azulada. O sol continua dourado, aquela rosa ainda é vermelha, o girassol é amarelo, as estrelas sempre cintilarão no seu tom prateado.
O dia cinza também é poesia, mas a alma cinzenta traduz somente versos em branco, versos vazios, versos transbordantes de dor, versos molhados de lágrimas, essas gotas incolores que tantas vezes teimam em manchar a maquiagem da nossa pele, a tinta do papel em que escrevemos ou, tão somente, brotar dos nossos olhos, nascidas da alma, modificando o nosso semblante, vez ou outra transformando os nossos lábios na sua foz.
O cinza do dia não deveria servir para alimentar a tristeza, para ser a companhia da solidão ou o incentivo à indolência, mas, sim, para nos despertar e nos levar a refletir sobre a beleza e os valores da vida, da natureza, dos bons e dos mais puros sentimentos que, se tantas vezes nos fazem sofrer graças à venda que colocamos nos olhos, nos ouvidos ou no coração, muitas mais colorem a nossa vida, pois infinitos são os momentos em que nos sentimos extremamente felizes.
A felicidade está exatamente nas aparentes pequenas coisas, nos momentos em que nos entregamos de corpo e alma a alguma realização espiritual, emocional ou material, a alguém que amamos, a quem nos ama, ao que fazemos com paixão, com amor, com sinceridade, com alegria, com doação total.
O dia cinzento é propício à meditação. Navegar no nosso interior, nos conhecermos mais, avaliarmos as nossas atitudes, os nossos julgamentos, as nossas palavras, os nossos sentimentos.
Mas é um maravilhoso dia para também valorizarmos todas as demais cores que conhecemos e que estão visíveis aos nossos olhos nus. Basta que mantenhamos, sempre, os olhos e, principalmente, o coração, completamente abertos, recebendo e entregando, sem limite, o amor e a poesia, inatos em cada um de nós.
Neste dia acinzentado, abri a janela e não vi o sol. No primeiro momento senti vontade de voltar para a cama. Porém, ao dizer o meu bom-dia para a vida, como sempre faço, decidi contemplar o cenário que a natureza me apresentava. E, a exemplo de todos os dias, transportei-me, mentalmente, para junto de ti, te abraçando. Namastê!
E agradeci a Deus pela perfeição da Sua Criação e pelo imenso amor que existe dentro de mim.
E o meu dia ganhou, incontinenti, todas as cores. E o meu coração vibrou a cor rubra, a cor do amor!