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Cartas-->Carta-resposta a Pablo, o menino embusteiro -- 03/11/2008 - 11:50 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pablito: o menino ingênuo ou o embusteiro?

"Deve-se combater o comunismo não em nome do liberalismo, da social-democracia ou de qualquer outro regime, mas em nome da dignidade humana" (Jean-François Revel, filósofo e escritor liberal francês).

“O Comunismo não é a fraternidade: é a invasão do ódio entre as classes. Não é a reconciliação dos homens: é a sua exterminação mútua. Não arvora a bandeira do Evangelho: bane Deus das almas e das reivindicações populares. Não dá tréguas à ordem. Não conhece a liberdade cristã. Dissolveria a sociedade. Extinguiria a religião. Desumanaria a humanidade. Everteria, subverteria, inverteria a obra do Criador” (Rui Barbosa).

Em nenhum momento eu dei a entender que eu e o Ternuma seríamos capazes de MATAR. Quem é comunista, como você, não tem nenhum tipo de problema de consciência a respeito de MATAR, já que aplaudiu o assassinato de 110 milhões de pessoas no Século XX. Não transfira sua ânsia de matar para os outros.

Quanto a defender os oficiais do Ternuma, não se trata de defender a tortura, mas a Lei da Anistia, que deve valer para ambos os lados, não só para os torturadores terroristas vermelhos, como querem Tarso "Béria" Genro e seu fiel escudeiro Paulo Vanucchi. Pois quem entende mesmo de tortura, com doutorado em Cuba, é a escória comunista que você defende de olhos fechados, deixando a dúvida se você é um idiota ou um patife.

Não há como defender qualquer das bocarras do Cérbero que infernizaram o Século XX, quais sejam, o Comunismo, o Fascismo e o Nazismo. Foi tudo uma praga só. Defender qualquer ramificação dessa indústria da morte é subverter os valores da sociedade humana.

F. Maier

***

From: julho22@hotmail.com
To: ttacitus@hotmail.com
Subject: Não sou esquerdopata
Date: Mon, 3 Nov 2008 03:09:30 -0200

Tudo bem, capitão, então vamos lá:

1 - Creio que concordamos acerca de algumas avaliações sobre o território legal amazônico que nos pertence. Muito bem. Mas minha simpatia pelo MST vai até o momento em que percebo que no movimento existem pessoas que lutam por terra para trabalhar porque elas precisam da terra. Cabe ao movimento descobrir os agitadores que desejam queimar o filme com ações que em nada correspondem às exigências desse grupo que não tem nada de paramilitar (geralmente os mais violentos não possuem instrução).

2 - Penso ser muito importante que as Forças Armadas realmente ocupem lacunas nesse espaço pela via constitucional antes que as rapinas internacionais lá cheguem com a máscara de bozo sobre a cara real de Freddy Krueger que eles têm (muitos deles criminosos a serviço de organizações obscuras que praticam a biopirataria). De fato, considero a coisa muito grave.

3 - A exploração sustentável e as pastagens podem coexistir mediante uma política de Estado responsável, o que nunca foi feito, muito menos pelo governo Lula, apesar da simpatia que sempre tive pela ex-ministra Marina Silva, que deve ter saído por motivos muito sérios. Bom, não sei, mas quanto ao novo ministro, Carlos Minc, tenho certeza de que o senhor e o TERNUMA odiaram vê-lo assumindo uma pasta ministerial, já que ele foi da Vanguarda Popular Revolucionária.

4 - Não entendo como o senhor pode qualificar o governo de Lula como "gestão comunista". Na minha opinião, o Lula deveria estar é no PSDB, porque não há nada em suas decisões que pareça com socialismo, muito menos comunismo. Nenhum tipo de produção foi socializada. As grandes propriedades estão mantidas e os banqueiros não têm do que se queixar. O Partido Comunista não ocupa posições-chave no Estado que venham a pôr em perigo a economia de mercado. De comunismo ou socialismo mesmo, só as falácias de Lula e a amizade dele por Fidel ou por Hugo Chavez, este último que qualifico como bufão total, muito grosseiro em suas relações internacionais, e que poderia moderar na língua quando discursa. Não gosto de populismo, nem de esquerda e nem de direita.

5 - Quanto às relações externas do governo brasileiro, não vejo motivo para criticar o governo por ele estar próximo de nações que não têm fino trato com os Estados Unidos e outros países, mesmo porque essas nações mantêm relações econômicas e culturais com muitos outros Estados.

6 - Eu não sou antiamericano apesar de que muito do que escrevo deixa transparecer algo nesse sentido. Sempre amei Marilyn Monroe, os carros anos 50 da Chevrolet, o rock and roll, os filmes (menos os panfletários do tipo "guerra do vietnã" e outras bobajadas horríveis produzidas por Hollywood, uma maçada total!) Não obstante, os americanos produzem filmes maravilhosos, ótima cultura, ótimos intelectuais, tanto liberais quanto socialistas. É uma nação tão pluralista e multifacetada que chega a ter uma juventude que vai a Cuba, por prazer, não para procurar prostitutas, mas para conhecer as atividades do Comitê de Defesa da Revolução e prestar ajuda. Se fazem ou não treinamento em guerrilha, isso eu não sei.

7 - Mahmoud Ahmadinedjad é um dos maiores populistas islâmicos que eu já vi ascender ao poder no Irã. Seus discursos patéticos acerca da negação do holocausto são uma infâmia escandalosa. Sobre a questão árabe-israelita, eu não posso tomar partido nem de um nem de outro, porque ali há eventos históricos e religiosos que comprometem o sucesso da paz entre eles e transcendem qualquer juízo que eu fizer. Não entro nesse mérito. O que não tolero é a atitude de Israel quanto a reservar um campo de concentração para muitos palestinos que sofrem horrendas privações (e isso até recrudesce a resistência armada contra a nação de Jacó). Muito menos tolero os atentados árabes contra civis judeus que saem de casa para a mercearia e vão aos pedaços para o necrotério. Israel é um país maravilhoso, de alto desenvovimento tecnológico e no campo da medicina, que eu sonho conhecer um dia. Eu fiz curso de Judaísmo numa sinagoga de Brasília e era leitor da revista Alyah LeTorah, período da minha vida em que aprendi muitas coisas boas e descobri muitas coisas negativas (a postura política do meu professor judeu era um absurdo, frontalmente oposta a tudo o que eu penso). Porém, devo à sinagoga tudo de bom que eu estudei na Bíblia (que continuo lendo, embora desprezando cabalmente o Novo Testamento, que é uma coleção de embustes romanos).

8 - Não discordo do senhor. Nós devemos é ter relações amistosas mesmo com os Estados Unidos (assim como Cuba também o quer), mas quando a elite protestante que governa aquela nação se levanta para abusar da sua condição de potentada e enrijecer com violento e medieval autoritarismo (que a gente pode até chamar de puro fundamentalismo cristão, de cunho terrorista), tenha a mais absoluta certeza de que eles cancelam a amizade na hora em que entenderem que seus interesses totalitários de mercado estão ameaçados. Quem é o país que tem base militar nesse mundão aí fora? O Brasil? Cuba? Vietnã? Equador? USA. Isto indica o grau de tolerabilidade que eles têm quando são contrariados. Minha esperança não é a de que Obama vença e seja o melhor administrador de todos os tempos, porque isso eu não sei. Espero mais é ver desalojados do poder a patota de Bush, MacCain e seus texanos cowboys à moda de John Wayne, e ainda o Exterminador do Futuro, Arnold Schwartzenegger, um bufão de primeira ordem.

9 - Não acredito que está em marcha, aqui, essas Forças Armadas Revolucionárias do Brasil. O MST sabe muito bem que luta armada nesse país de povo ultraconservador, pouco instruído e mais dado à "docilidade e à alegria" resultará numa hecatombe para a bandeira vermelha. Não existe nenhuma condição de politizar um país tão imenso quanto esse, muito menos de forma acelerada. Quando houve a revolução russa, a grande maioria dos russos era feita de mujiques rurais e operários, um montão deles despolitizados (apenas conscientes de que se deveria acabar com a autocracia). Quando o PC russo viu que também tinha de lidar com os excluídos apolíticos, aí mandou brasa no terror para manter o domínio ideológico. No Brasil, hoje, devemos levar em conta o fato de que uma minoria tem conhecimentos políticos e sabe distinguir liberalismo de socialismo e comunismo. Isso explica porque a classe média teve e tem mais bagagem política para discutir sobre determinadas questões, inclusive revolução. Se a política não precede a ação revolucionária, a guerrilha cai no puro terrorismo, e seu destino é perecer, pois desvincula-se da base que é a população a quem o Estado deve servir.

10 - NÃO DEFENDO um regime que matou 110 milhões de pessoas para se fixar à base de sangue e chumbo. Para mim, o stalinismo foi tão bárbaro e vergonhoso quanto o nazifascismo. O que dizer de Joseph Stalin? Um bêbado vil que assinou com Hitler um "pacto de não-agressão" (que comédia!) acreditando que o racistão nojento cumpriria o trato. Só mesmo um sujeito muito imbecil e pestilento como Stalin foi capaz de tamanha sandice, o que levou a Rússia a um descalabro (somente salva depois pelo senso de dever dos russos que lutaram com bravura espetacular). Stalin, um arrivista analfabeto, impiedoso e bebum, é lixo do século XX, e é na lata de lixo que deve ficar. Não sou stalinista nem trotskista: sou um comunista que não gosta de ver essa esquerda se digladiando sobre quem estava com a razão (se Trotsky ou Stalin) um absurdo, uma perda de tempo e de futuro. No fim, os anarquistas se mostraram mais sensatos quando apontaram o monstro que estava se gestando no Estado russo.

11 - O meu sobrenome Emmanuel é parte de um heterônimo criado, que eu registrei na Biblioteca Nacional quando comecei a produzir meus livros de poemas, aos 20 anos. Meu primeiro nome não é codinome nem pseudônimo ou heterônimo. É Pablo mesmo, mas com outro sobrenome. "Emmanuel", por ter um belo significado, até porque tem uma sonoridade bonita, foi congregado com vistas à subscrição dos meus textos em verso. Depois, me acostumei a assinar assim e assim ficou. Aliás, quando a Usina de Letras surgiu, eu vi a matéria pelo jornal Correio Braziliense, e acessei o site, que achei maravilhoso, um espaço para eu postar o que eu escrevo desde os 20 anos (hoje tenho 35). No começo, estava ótimo, eu postava sempre. Até o dia em que apareceu uma moça que postava poemas de Alvares de Azevedo e assinava-os como sendo dela. Como o Usina não tomava nenhuma providência, deletei tudo meu que estava no site, e hoje posto no meu blog (que não é político, mas voltado estritamente para poesia).

12 - Eu não tenho nada de "esquerdopata". O marxismo não pode e nem deve ser encarado como um dogma para não transformar socialistas em meros aventureiros armados. Quem dogmatiza o marxismo, começa a ver inimigos até mesmo nos amigos mais próximos. Daí é que surgem as trágicas divisões na esquerda, razão pela qual ela não consegue penetrar nas classes populares, ficando apenas na classe média universitária e partidária.

13 - Gosto da Bíblia (do Tanach judeu, que tem ótimas lições de ética que podemos aplicar no cotidiano) mas não sou afeito ao cristianismo, que é o pai do anti-semitismo (leia o Novo Testamento e veja que o antijudaísmo começa nele, uma artimanha romana para inculpar Israel e fazer da Santa Sé a única destinatária da salvação... E, aliás, outro cristão que ajudou os judeus a se darem muito mal na Europa, foi o desgraçado Lutero, que, com seu livreco de 1543, insuflou a Alemanha contra os israelitas. Hitler não inventou nada, achou tudo pronto). Seu próprio sobrenome, capitão, que é MAIER é de origem judaica.

14 - O que é democracia? E liberdade? São dois conceitos polifacetados. Pra mim, se socialismo não combina com democracia, já deixa de ser socialismo. Para os liberais, como o senhor, que defendem o mercado, democrático é poder produzir e especular, fazer a economia crescer. Pra mim, democrático é produzir mediante as necessidade imediatas que se apresentam. O socialismo não é a cura do mal humano, tanto quanto o capitalismo não o é. Não existe governo bom ou ruim: o governo apenas existe para ser governo. Se ele não existisse, atingiríamos a porta de entrada para o comunismo que é um regime tão remoto de realizar-se quanto o anarquismo. No socialismo existe Estado, como no capitalismo. O capitalismo é dinâmico, cai e se ergue com rapidez. Mas é o que mais sacrifica o homem. Se o socialismo muitas vezes mata por ação revolucionária violenta, o capitalismo faz pior: mata por omissão, porque deixa cada qual ao "Deus-Dará".

15 - Então o senhor qualifica a esquerda como Peste Vermelha, né? O senhor, como militar, ainda traz muito daquela herança que os anticomunistas militares de 1935 tinham. Aliás, a educação nas FFAAs sempre estará voltada para o anticomunismo. Eu estive na Feira do Livro em Brasilia, vi a banca da Bibliex. Muita publicação "antivermelha". Tão perigoso quanto o comunista dogmático, que entende o marxismo não como um instrumento de compreensão da realidade e das relações históricas de trabalho, mas como uma "clásula pétrea", também é terrível o militar que se dogmatiza crendo ser a única salvação nacional (que aliás surgiu como idéia ferrenha após a Guerra do Paraguai).

16 - Eu não gosto mesmo do TERNUMA. Patriotas os há em toda parte. Mas no TERNUMA eu sei que tem gente ali que deve ter bons contatos que levem a encontrar restos no Araguaia, bem como a cova clandestina em que foi jogado Paulo Stuart Wright, de quem o coronel Ustra jura de pé junto não saber de nada. Acho improvável.

17 - Eu queria falar sinceramente ao senhor e ao TERNUMA, agora. Se querem matar um homem, matem-no. Mas jamais defendam o uso da tortura como método eficaz para garantir a segurança federal, estadual ou municipal. É melhor a morte de uma vez do que ter o corpo triturado lentamente, apenas para dar satisfação a agentes sombrios que se deleitam com o sofrimento bábaro dos outros. Isso aconteceu na prisão de Lubianka, em Moscou, sob o olhar de Stalin. E aconteceu aqui nesse país quando deram um chão em Jango e arrombaram o Planalto para colocar os pés sobre a mesa e despachar com tinta à base de sangue. Aliás, Jair Bolsonaro tem a maior saudade dessa época.

Saudações finais,

Pablo Emmanuel

P.S.: Eu o critiquei daquela vez porque achei uma infantilidade seus comentários sobre a Bete Mendes, não porque você era militar e tinha ligações com o TERNUMA. Agora que eu vi que o senhor escreveu: "Um viva aos oficiais do Ternuma e um ó (polegar com indicador, redondinho) para o Pablo das FARC" - eu entendi que vocês não hesitarão em matar mesmo. Mas se pretendem matar qualquer homem, matem-no, pois, mas não inventem de picar um homem ou uma mulher, vivos, para não se igualaram aos traficantes do Comando Vermelho. Se o fizerem, aí sim é que vocês provarão que Deus sempre foi uma piada para vocês, enquanto que, para mim, ele é alguém que não conheço e de quem não posso comprovar tanto a sua existência quanto sua inexistência.

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