Inverno. Noite fria prometendo um dia bem mais frio, porque a chuvinha fraca se faz intermitente. O céu está negro, escondendo as estrelas.
O silêncio, lá fora, é quase sepulcral, permitindo apenas que as gotas de água transformem em melodia o seu encontro aos telhados e ao chão. Os cães não uivam, devem estar se escondendo do frio e da chuva. Os pássaros dormem, certamente nos galhos mais protegidos por folhas, para não perderem o aveludado de suas penas. O vento, vez ou outra, assobia calmamente, talvez para informar que é inverno, talvez para me certificar de que não estou sozinha.
Aqui dentro não há silêncio. A TV está ligada com o som reduzido a quase zero. Sequer a olho, mas, com ela ligada, fica a impressão de que tenho companhia. O computador também quebra o silêncio, não só através do teclado que não tem descanso em razão dos meus dedos que se agilizam sobre cada tecla, quer através da CPU, cujo som eu só me dou conta do quanto é insistente, quando desligo o micro e sinto um certo alívio auditivo.
E como devo descrever este silêncio gritante dentro de mim?
Há momentos que eu me sinto vazia, parece que até os pensamentos se escondem do frio e da chuva que formam o cenário da madrugada, lá fora.
Em outros, tenho a impressão de que os meus neurônios conversam entre si, agitando minha mente, acelerando meu raciocínio, dando-me a ilusão de que existem várias pessoas dentro de mim, mantendo um diálogo constante, ou melhor, um poliálogo (hummmm), todas falando simultaneamente.
De repente, surpreendo-me conversando apenas com a minha alma. Ouvindo meu coração. Ora questionando, ora respondendo, ora, apenas, buscando compreensão. Ora recordando, ora sonhando, ora sorrindo, ora chorando.
Dentro de mim, nesta noite, está como lá fora. As lágrimas copiam a chuva fraca e intermitente. O coração está em trevas, não permite o brilho dos olhos. Sinaliza frio, indica a necessidade de esconder-se para sentir-se protegido, aquecido. E minh’alma, como o sopro do vento, não consegue esconder que tem o amor vivo a ela incorporado, sibilando calmamente, talvez para informar que no meu âmago não existe inverno, talvez para me certificar de que o amor é eterno.