O que podemos considerar um assassinato? Extinção de um indivíduo? Ou de um feto também o é? Se é, o que dizer dos óvulos e espermatozóides que são eliminados todos os dias?
"O mundo inteiro foi contra o holocausto, onde seis milhões de judeus foram mortos. O que está havendo é um holocausto silencioso onde um milhão de crianças são vítimas de aborto no Brasil", afirmou dom José.”
Se os médicos matassem a menina grávida, estariam cometendo um assassinato; equivalente seria deixá-la morrer por não interromper sua gravidez.
Os religiosos, indo muito mais longe, querem que a eliminação de dois fetos também seja dois assassinatos.
Até se chega mais distante: afirma a igreja que usar anticoncepcional também equivale a matar, porque impede a concepção, ou inviabiliza uma vida que poderia vir à luz.
A essa altura, nem deveriam parar por aí. E as centenas de óvulos que uma mulher joga fora durante a vida, mais os bilhões de espermatozóides que cada homem joga fora? Não são vidas que deixaram de vir ao mundo também? Ou negam que os espermatozóides também são vivos?
Para estabelecer o limite até onde vai o assassinato, temos que ter em mente que “matar” é eliminar um ser vivo, não o sendo o simples impedir que venha a existir mais um. Se assim fosse, estaríamos assassinando todos os dias.
Tais religiosos parece nunca entenderem que a natureza é assim: temos abundância de sementes, e não seria viável aproveitar todas elas. Um feto é um início de um ser vivo, mas ainda nem tem um sistema nervoso suficiente para sentir dor. E, se a questão é dor, aqueles fetos eliminados,se não o fossem, estariam livres da dor? Iriam sofrer muitas dores durante a vida e depois a última dor para morrer um dia. E dor, muito mais dor, iria sentir aquela menina no percurso da gravidez até o dia que seu organismo não suportasse, e muito dificilmente aqueles fetos sobreviveriam além da morte da mãe. Que proveito se teria? Fazendo-se o aborto, pelo menos uma vida foi salva.
Ainda que se considere o aborto um mal, deixar de salvar a vida de uma pessoa que já tem um histórico de vida é um mal muito maior. Isso, por si só, já justifica o aborto como escolha de um mal menor para evitar o maior.
A humanidade não deve se curvar diante do pensamento primitivo.
Pensemos em quantas crianças são jogadas na rua destinadas ao sofrimento e à perturbação da sociedade, sem chances de serem felizes. Não seria muito melhor que não existissem?
Sejamos racionais: vamos trabalhar em favor das vidas existentes, mas conscientes de que o mundo não comportaria se cada óvulo de cada mulher se convertesse em uma criança. Só um controle eficiente da natalidade poderá viabilizar a sobrevivência da humanidade. É melhor evitar a gravidez do que fazer aborto; mas sacrificar a vida de uma pessoa por um feto, que dificilmente sobreviveria à morte dessa pessoa, é uma irracionalidade.