Andar de ônibus às vezes nos reserva algumas surpresas agradáveis e sempre acontece algo inusitado.
Hoje, como sempre sem nenhum respeito à lei da física, dois corpos ocupando o mesmo lugar superlotavam como sempre o coletivo que nos levava de volta para casa ou para a escola, depois de mais um dia de trabalho.
Um cidadão comum, vestido humildemente distribuiu alguns lembretes e logo em seguida pediu a atenção de todos e fez o discurso já conhecido por muitos: Senhores e senhoras gostaria de pedir licença para tomar o tempo de vocês, mas, é que estou desempregado e peço ajuda de todos porque não suporto ver minhas duas filhinhas com fome. Aceito qualquer quantia, até um centavo, vale transporte, tíquete refeição, um pacote de biscoito, o que vocês quiserem me dar.
Mãos mecânicas começaram a mexer nos bolsos e em bolsas e em menos de cinco minutos ele arrecadou no mínimo uns oito reais.
Se este cidadão repetir a façanha cinco vezes por hora, conseguirá abocanhar a quantia de quarenta (40,00) reais, que multiplicando por oito horas, que é a jornada de trabalho, o seu ganho no dia será de trezentos de vinte (320,00) reais.
O salário mínimo agora é de quatrocentos e quinze (415,00) reais.
Desta maneira, trabalhando de segunda a sexta, este “trabalhador” conseguirá a quantia de oito mil e quatrocentos (8.400,00) por mês.
Quantas pessoas com curso superior conseguem ter um salário destes?
E tem gente dando esmola achando que faz caridade.
“-Não me interessa o que ele vai fazer com o dinheiro, isto é problema dele com Deus”.
O pobre de verdade, aquele que passa fome, muitas vezes não sabe nem conversar e tem vergonha de pedir.
Quantas vezes o trabalhador assalariado chegou em casa e o gás tinha acabado ou uma receita estava amarelando no armário sem o dinheiro para comprar o remedio?
Enfiar a mão no bolso e tirar uma moeda ou um vale transporte entregando sem ao menos olhar na cara do pedinte é muito fácil e um mecanismo poderoso para alimentar a indústria da mendicância.
Muitas creches estão jogadas às traças e crianças abandonadas pelos pais sofrem também o abandono do poder público e da sociedade.
Muitas instituições sérias sofrem para cuidar de pessoas realmente necessitadas.
E poucos se dão ao trabalho de fazer uma visita a um asilo para ver de perto aonde será usada sua doação.
Dar esmola é muito fácil.
Fazer caridade implica em comprometimento.