CARTA ITINERANTE
Ah, meu amigo, como eu gostaria que você existisse!
Há tanto tempo preciso de você que já não entendo o alcance da minha necessidade. Sei que sinto demais a sua falta. Hoje eu pretendo conversar um pouco e vou tentar fazer com que você me compreenda.
Eu gosto da vida, de tudo que ela tem de belo, de todas as coisas que ela nos dá e nos faz felizes. Não gosto das coisas tristes, de tudo que nos torna magoados e sofridos.
A vida me deu um bem precioso: os sentidos. Este mesmo sentir consegue me deixar desesperada, às vezes. Uma alegria ou uma tristeza que preciso mostrar e não encontro você para perceber, para me acompanhar, para me ajudar a não me sentir tão só.
Sabe o que isso resulta? Uma dor mais profunda e uma satisfação reprimida.
Sabe, meu amigo, eu preciso muito de você para "não quebrar tanto a cara". Eu quero você para me orientar na aprendizagem das lições que a vida me dá. Eu me sentiria feliz se, um dia, pudesse colocar o meu rosto no seu ombro e chorar, sabendo que você me consolaria. Eu quero muito que você gargalhe comigo, sem subterfúgios.
Quanta coisa! Infelizmente esta é a verdade.
Os meus outros "amigos" não são iguais a você, e se não consigo ser a "boazinha" sempre, incomodo, chateio e canso a imagem e a homogeneidade do grupo.
E o Amor? Sabe, amigo, eu até esqueci o que significa amar. Preciso confiar mais nas pessoas sem que o receio venha em primeiro lugar.
Talvez eu esteja só exigindo e não tenha encontrado a forma correta de também doar.
Responde: você é capaz de ser meu amigo? É capaz de aturar o meu egoismo, as minhas contradições, a minha tagarelice e tentar me ajudar?
Se responder NÃO... Paciência, não será o único.
Se responder SIM... Serei feliz pois poderei dizer que tenho um amigo e este amigo me ensina a viver melhor porque nos conhecemos e nos aceitamos como somos.
Dalva da Trindade S. Oliveira
10.03.1977 - 23:30h
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