Não me lembro de seu rosto. Nem sei como você é atualmente. Nesta minha gloriosa vida de professora, tive tantos e tantos alunos queridos que seria impossível recordar-me de todos... Mesmo os que mais marcaram foram-se apagando, aos poucos, da lembrança. Isto porque, ano após ano, o círculo professora-alunos era renovado: novas carinhas, novos sonhos-vivos diante de mim... E eu, querido aluno, inebriadamente, seguia com a missão que me foi confiada pelo Pai Celestial.
Deve fazer quase duas semanas que "casualmente" recebi uma informação sobre um ex-aluno que me procurou num dos prédios da Cultura Inglesa, achando que "uma tal Céu", uma das professoras desse Curso, podia ser a sua querida professora de português, de alguns anos passados, que lecionara na Escola Municipal Presidente Antônio Carlos, em Cosmos - Rio de Janeiro.
Só que a referida professora não era eu. Apenas tinha o mesmo nome! E nunca ouvira falar de mim... E você, Alexandre querido, saiu, visivelmente decepcionado, porque queria muito dizer a esta professora que ela teria sido a razão de uma mudança radical - muito importante - em sua vida.
Como eu sei disto? Eu conto... Embora não saiba se, num dia qualquer, sob a vontade do Pai que a tudo assiste, você dê de cara com esta carta e nela se identifique... Deus é infinitamente bom, Alex, pois fez que a minha xará, a outra Céu, talvez "tocada pelo seu relato" tivesse esporadicamente comentado com alguém este fato, tão importante para mim quanto pra você... Pra ela... nem tanto.
E a pessoa a quem ela contou nossa pequena história, coincidentemente me conhecia. Por essa razão, fiquei sabendo de sua procura por mim, o que me fez imediatamente tentar um contato com a colega de profissão, por telefone que, visivelmente surpresa como se achasse impossível o que estava acontecendo, prometeu-me que num outro horário iria passar-me os dados que você, tão confiante, deixou num pedaço de papel, sob a promessa de que ela se esforçaria para me localizar... Mas não o fez...
Jamais moveu um dedo sequer para cumprir tal promessa. Certamente, dever ter perdido o papel com as informações, ou jogado fora, naturalmente, como a gente faz com algo que "não nos interessa"...
E eu que me julgava a um pequenino passo, querido Alex (soube que estava de viagem para Milão cursar medicina, seu sonho de vida)... Pois bem... Após alguma insistência sobre o pedaço de papel onde você tinha colocado cuidadosamente os seus dados, dando-lhe inclusive ciência de meus dois sobrenomes, o de solteira e o de casada...
Ah, Alex... Fico a me indagar o que faz que uma pessoa tenha uma atitude assim, inexplicável. Se me dissesse, prontamente, "Sinto muito, mas perdi o papel e não consigo encontrar", eu até ficaria satisfeita. Afinal, que obrigação tem a colega de entender de sentimentos tão profundos, não é?
Mas, não... Ela, apenas respondeu à minha mensagem do celular: "Pode deixar, Céu"... E eu, meio sem-graça de estar insistindo, simplesmente, "deixei". Prefiro acreditar em Papai Noel: é mais seguro...
Perdida a esperança, resolvi escrever-te esta cartinha. Não que eu pense que a vás encontrar, mas, por ser NATAL. E para dizer-te, caso haja a possibilidade de me leres por aqui, que tuas palavras sobre esta velha professora foram o meu melhor presente deste NATAL! E pensar que eu estava prestes a te dar um presente do mesmo valor...
Não sei... Creio que, por alguma fração de segundo, as Forças do Universo deram uma cochilada e eu não consegui o meu intento. Talvez estas mesmas "forças", Alex, estejam, neste momento, atentas e, quem sabe, levarão para você esta minha cartinha, de presente... Quem sabe... Se... Pela MAGIA DO NATAL...