De repente, um clipe no chão. Largado. Vem o pensamento. Pode-se comparar o papel do clipe com as ações de uma pessoa? E até com os seus sentimentos? Claro que sim.
Aí o pensamento voa mesmo. Leva à reflexão. O clipe segura as coisas, agrupa. Mas, sem mais nem menos, larga, abandona. A retenção não é permanente.
Um grampo, por sua vez, fixa, retém, a não ser que seja destruído, rompido. O clipe não. Fica sob o desejo do freguês. Do jeito que prende, pode soltar. Sem dificuldade.
Fazendo a relação, as pessoas são da mesma maneira, não são? Um amor, uma amizade, que seja, vêm com tudo. Inicialmente, consideramos a eternidade, nada mudará. Qual o quê! A liga pode perdurar, mas não existe a garantia de que tenderá a ser infinita. A ilusão da permanência é gostosa. Dá na gente aquela coceirinha da felicidade. Fornece o riso fácil, a alegria saudável. Surge a esperança. Como esperar pelo melhor é bom, minha querida!
Porém, tem um fantasma a assustar- nos – “a duração das relações não é regra”. A longevidade é rara. A ambrosia gostosa de hoje pode passar do ponto amanhã. Na onda avassaladora do bem-estar pode se intrometer a tristeza do rompimento, da separação. Aí, no caso, é mais doloroso, naturalmente, do que a retirada sutil e silenciosa do clipe de um amontoado de papéis. Sim... Porém, há semelhança.
Até para não ser amargo absoluto, penso que pode haver volta nas associações desfeitas. A conciliação é possível, sem dúvida.
Um simples (será tão simples?) clipe suscitou muitas lucubrações. Comecei a divagar sobre o “instrumento” e as pessoas, logo que você o deixou cair no carpete, quando raivosamente pegou as folhas dos seus escritos, o último conto, e esbofada saiu batendo a porta da sala, com aquela conhecida energia, tal qual quando me chama para tirar algo a limpo, na busca da solução para uma “parada” mal situada. Na certa, você sabe como é. Aliás, é bom lembrar-se da música do Dylan – Forever young – seja jovem para sempre, não se estresse à toa, tá certo? Aproveito para deixar o recado.
Fiquei com o clipe equilibrado entre os dedos e me deixei levar pela imaginação. Na época em que eu trabalhava, ele era uma peça essencial. Tinha constantemente sobre a minha mesa uma ruma agarrada a um ímã grandão. Outra coisa que não faltava era o apontador. Mania de velho, né? Usava para valer e ainda utilizo o lápis, quando não estou no computador. Daí a necessidade do apontador e, também, da macia borracha.
Você deve lembrar que nas nossas viagens ao exterior eu era “zoado”, pois me detinha a comprar, com fartura, marcadores de texto, orelhinhas de livros, lápis e outros apetrechos de escrita. As pessoas perguntavam na zombaria se o material não existia aqui no Brasil e se não havia alguma coisa mais original para trazer. (risos!) Respondia à provocação colocando que cada um tem lá as suas preferências, suas predileções. Afinal, sei de gente que comprou cabide nos “States”, pra seu governo.
Um amigo contou que ao entrar em uma loja de Nova Iorque estava seguro da falta de interesse por qualquer objeto. Deixou a acompanhante ficar à vontade, esbaldando-se nas compras. E ele plácido, afastado da febre consumista, com os seus botões. Depois de algum tempo, vendo a mulher aproximar-se com uma infinidade de bolsas, não suportou, capitulou diante da farra gastativa. Sem saber bem do que se servir lançou mão, às pressas, de um grande urso amarelo de pelúcia. Desabafa que até hoje não sabe dizer o porquê da aquisição, mas mantém resoluto o mimo enfurnado em um armário. Vamos saber?!
E o clipe continuava deslizando na mão. A cuca funcionando. Inquietude. Veio, então, um sentimento derradeiro e, até certo ponto, simplista: não adianta queimar a mufa antevendo as consequências. Nem sempre o que agrupa cola. Isto eu reputo de inquestionável.
A reunião ou a própria união de pessoas, na maioria das circunstâncias, não tem futuro. Ou se tiver, terá um caminho de altos e baixos, como é a vida. Não devemos esperar pela insolubilidade ou pela calmaria que nos trouxe Cabral até estas terras.
Quanto ao clipe, ele é sucesso para o que foi bolado. Mas também corre perigo. Vai que o volume ajuntado é muito grande ou é fruto de mau uso, fazendo com que saia voando de sua posição, largando tudo o que aparentemente estava atado.
Sem problema, vamos combinar, querida Violeta: junte, associe e reúna tudo o que for capaz. Farei o mesmo, não se preocupe.
Enquanto houver união, estará garantida a força, não é isto que se diz por aí?
Meu beijo,