Momentaneamente olhei para trás. Não, não cheguei a virar totalmente a cabeça, tampouco parei no tempo observando.
Entretanto, foi tão nítida a lembrança que eu juraria que voltei ao passado por alguns instantes, revivendo aquelas cenas.
Não, não revivi, pois estava ali apenas como mera expectadora. O cenário pareceu-me irreal, a princípio, mas tudo era tão vivo na minha memória que seria impossível dizer que nada daquilo existiu ou aconteceu.
Concentrei-me no casal que tão carinhosamente trocava carinhos e juras de amor numa serenidade invejável, com os olhos brilhando mais do que as estrelas, transpirando poesia por todos os poros.
Impossível detectar qualquer dúvida nos seus sentimentos. Já não eram crianças havia muito tempo e, no entanto, sorriam e riam como se estivessem fazendo traquinagens conscientemente, cumplicidade total, onde o amor predominava. Por vezes a seriedade fazia parte da cena, traduzindo tão somente a responsabilidade e o respeito mútuos.
Cheguei a ouvir seus corações batendo descompassadamente a cada aproximação maior. Desejavam-se. Amavam-se profundamente. Sonhavam e se sentiam seguros dos seus sentimentos. Um amor assim é para sempre, eu pensava.
Foi tudo muito rápido! Antes mesmo de piscar os olhos e me virar para a frente vi lágrimas vertendo dos olhos de ambos, rolando pelas suas faces, banhando seus rostos que já não sorriam, que demonstravam angustia, medo, insegurança, decepção, desilusão, desespero, inconformismo, separação.
Tentei olhar para a frente rapidamente, mas não consegui. Paralisada, senti minha alma chorar. De saudade, de tristeza, de dor.
Recolhi, num instante que pareceu um século, algumas lágrimas que não consegui conter. Fechei os olhos e percebi que o cenário continuava ali, intacto, indelével, aguardando um mínimo sinal para, quem sabe, modificar-se a história para que ela nunca tivesse um final.