Veio, por causa da solidão momentânea, uma enorme saudade: as casas de minhas avós já não existem mais, ambas viajaram para o outro lado da vida, deixando apenas aquelas recordações amenas que nos deixam as pessoas queridas. A rua onde passei a infância e o início da adolescência, tão pacata e silenciosa, hoje se transformou numa autêntica filial do inferno: barulhenta, cheia de fumaça do óleo diesel dos ônibus que passam apinhados. Não há mais meninos correndo atrásd de uma bola de pano, sonhando e querendo adquirir fama de craques. A tarde de sábado, repentinamente, ficou vazia, inútil, tendo a televisão e o computador como únicos refúgios tecnológicos, mas que não preenchem a necessidade do convívio humano, não sufocam a saudade que maltrata o peito, põe o coração acelerado.
Que fazer, não há como ligar uma linha para falar com aqueles amigos que eu nem sei por onde andam. A companheira e os dois filhos homens lá pelo hemisfério norte e eu aqui pensando neles, na quietude do meu quarto, escrevendo estas linhas que brotam como um grito do fundo da alma.
O jeito é rezar, pedir a Deus que os dias de ausência sejam breves, para que os meus braços possam estreita-los, pelo menos dois deles, quando do retorno, já que o caçula vive muito longe daqui.
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