Emudeceram-se os lábios que ontem caminhavam
Sobre os gélidos dizeres da razão regente.
O silêncio ingente derrama seu vazio
Por entre as horas deste dia frio.
Penso nas palavras proferidas
E não encontro siso para conservá-las inertes na memória.
Percebo que não só as minhas , mas as ânsias de seu coração têm-se multiplicado.
Hoje fitei sua foto por um tempo
Que não saberia determinar ao certo.
E a memória entregou-me seus olhos
– as mesmas pedras que ontem gritaram dores que já não pertencem apenas a você - ;
Resgatou, também, as lágrimas e as palavras
Que de sua real efusão transbordaram.
Temo por uma frieza que herdei .
Temo mais ainda por tê-la percebido por entre palavras dispersas em frases geométricas.
Senti a sensibilidade - que tanto reluz de você -
Perder seu brilho em minhas mãos ...
Vendo sua imagem, seu sorriso vivo sob uma foto ,
Senti a precisão de vários tons que pensara ter,
Mas me enganei.
Não acredito na completa imutabilidade do passado.
Por isso peço perdão pela falta de carinho...
E peço:
Ensina-me a caminhar pelo seu jardim;
Ensina-me a discernir suas dores nativas
Das rosas de espinhos tão conhecidos ;
Ensina-me, acima de tudo, a cuidar de seu jardim: a iluminá-lo
Com a luz que sei não ter perdido.
Como bem sabe, algo maior que esta forma efêmera que me tem a mim
Não anuncia aurora,
Nem sua hora de partida.
Este corcel infinito
Parece rasgar velhas feridas,
Enquanto lágrimas me aliviam da vida...
Queria tê-la aqui ao meu lado
Para que pudesse ver o quanto
Estou frágil e perdido; o quanto
Preciso de uma mão (sua mão)
Para não me atirar
Aos meandros que me são ofertados .
Rogo debalde, pois sei que não pode me sentir neste momento,
Mas quero que saiba que – mesmo sendo o passado este Deus impio , grave, pétreo...-
Estou tentando enfrentá-lo com as armas que o presente me concede:
Amor , sinceridade, humildade e silêncio.