Versos significam muito pouco se escritos cedo. Devia-se esperar reunir doçura e sentido numa vida, de preferência longa, para se ter versos maduros. Pois versos não são, como imaginam as pessoas, sentimentos ( a esses temos cedo demais ) - são experiências. E por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, conhecer bichos, plantas, é preciso sentir como voam os pássaros, conhecer coisas e pessoas várias, e saber com que gesto flores diminutas abrem ao amanhecer. É preciso saber retornar caminhos andados há tempos passados, reviver dias da infância ainda não explicados, dias em quartos ou celas silenciosos, então talvez surja o primeiro verso.
E poder pensar e viver tudo isso não é suficiente. É preciso ter lembranças de muitas noites de amor, nenhuma semelhante à outra, gritos de mulheres dando à luz, também é preciso ter estado com morimbundos, ter sentado junto à um morto sozinho num quartinho sujo e escuro.
E não bastam lembranças ter...é preciso esquecê-las e fazê-las retornar da Terra dos Sonhos, quando necessário. Torná-la sangue em nossas veias, olhar e gesto, sem nome, não mais distinguíveis de nós mesmos, aí então numa hora muito rara se erga do meio delas o poema absoluto de toda uma vida, única poesia digna de ser escrita, lida e de dar orgulho a alguém dizer: Eu sou poeta.