Amor das palavras quietas, o exílio apascenta e inquieta. Longe, muito longe da minha terra, e mais ainda dos meus costumes, vivo de pensamentos - às vezes sãos, tantas outras não - de angústias e, principalmente de esquecimentos.
Decidi esquecer-me, e isto envolve tantos outros abandonos que nem mesmo eu sei, agora, o que significa tal opção e quais consequências trará a quem eu sou, eu fui ou, oxalá, possa vir a ser.
E você, da esquina de incerteza que te acompanha, poderia até perguntar-me: “Por que, então, não te quedas calado, e te propões, Insensato, a me perturbar com esta vil violação?”.
Simplesmente te respondo que meu coração é mal curado, permanece quieto e inquieto, nas sístoles e diástoles que habituaram-se ao bater das horas, todas elas insignificantes em dias sem cor, deste maldito calendário gregoriano.
Estou longe, Silêncio! Leio muito. Não sei se volto. Sinto arrepios inconfessáveis. Uma linha branca, tênue, insensata, convida à transgressão. Vou além da mim, na minha dor de desconhecer-me. Acabei de assistir “Paraísos Artificiais”. Pensei em você. Pensei em Jung. E descobri que todas as sincronicidades, em que em tanto acreditava, além de possíveis, também podem ser labirintos fatais.
Se te amo, Silêncio? Tenho certeza. Mais ainda estou nadando e não sei se até a plataforma terei fôlego. Por enquanto, sou um menino me afogando, no mar escuro, de uma igualmente escura noite, enquanto outros se encontram e se perdem ao som desta louca rave que é amar, viver..., amar, morrer..., amar e não saber dizer...