“Debaixo dágua tudo era mais bonito/mais azul mais colorido/só faltava respirar/Mais tinha que respirar”
Não há como se proteger do mundo, evitar a ignorância, impedir o envelhecimento, prevenir os desgostos ou desprezar os inícios e postergar os términos , uma vez nascido aqui, um dia “morrido” aqui será .Mas não tem problema, sem saber quanto vai perdurar, a experiência e as sensações do existir nos garantem um lugar no coração das pessoas, em suas lembranças e na história desse mundo feito para acabar.
Porque eu não quero morrer jovem.
“Debaixo dágua se formando como um feto/ Sereno confortável amado completo /sem chão sem teto sem contato com o ar/Mas tinha que respirar”
Agora já não posso mais voltar e mesmo que eu esforce para esquecer o que já vivi, só o tempo apagará minha memória. Para quem vive na batalha o frio não pode ser contido nem pelo tijolo da parede nem pelo tecido da camisa de malha. Essa é a diferença entre viver a Deus dará ou na base do seja-o-que-Deus-quiser.
Debaixo dágua ficaria para sempre ficaria contente/Longe de toda gente para sempre/No fundo do mar/Mas tinha que respirar
Ao respirar, molécula por molécula do ar, se sente que a vida um dia vai mesmo acabar. Nada nunca fica completamente pronto nesta terra, só se edifica uma casa quando ela se transforma finalmente em lar. Ser humano é sentir falta, carências, é nunca se sentir pleno, é sofrer com as ausências. Humano é ser vivo, humano é saber da morte e permanecer vivo da primeira aurora ao ultimo anoitecer.
Sempre me faltam palavras e enquanto faltar, permanecerei escrevendo.
P.S.: Texto inspirado pelos versos de “Debaixo d’água” de Arnaldo Antunes.
