Por que trazer uma criança a esse mundo? A este mundo tão violento, a este mundo tão duro e cruel com todas as pessoas. Decidir entre ter ou não um filho é uma das maiores incertezas na vida de uma pessoa. Tentar imaginar como será o mundo em que ele irá viver, levando em conta a miséria, as guerras, o clima e tudo aquilo que não podemos controlar é o tipo da coisa que faz a gente pensar e repensar, mudar de ideia muitas vezes até tomar uma decisão definitiva. As dúvidas, entretanto, não acabam quando alguém resolve ter um filho, muito pelo contrário: depois que eles nascem elas parecem ganhar ainda mais força. Mas maior é o nosso amor por eles.
Foi assim comigo durante muitos anos. Eu queria muito, mas sempre tive medo de ser pai. Até que um dia eu conheci alguém e essa pessoa (hoje minha esposa Valéria) me fez querer ser pai além de todos os medos, acima de todas as ameaças e além de todas incertezas. Foi através da sublimação do nosso amor que o João Pedro veio ao mundo. E hoje agradeço a ela todos os dias por ter me mostrado que eu poderia ser um bom pai. E uma pessoa melhor.
Nesta última semana, quando as pessoas colocaram suas fotos de criança em seus perfis, eu coloquei uma minha com minha mamãe. Ela me agradeceu e disse uma frase que ficou ecoando na minha cabeça: “Filho eu ainda sinto o seu peso em meus braços, mesmo passados 40 anos de seu nascimento”.
Essa foi uma das respostas da vida a minha pergunta, a esse desafio que é cuidar de uma vida neste planeta tão castigado. O amor da minha mãe, o amor do meu pai, e todas pessoas que existem em minha vida. A cada uma delas eu devo este amor tão grande que sinto, esta gratidão por ter a oportunidade de estar aqui agora. Ensinando e aprendendo continuamente.
No dia em que o João Pedro nasceu, 12 de março de 2012, enquanto esperava para entrar na sala de cirurgia e segurá-lo logo após seu nascimento, veio um filme na minha cabeça, e lembrei dos meus avós; o pai do meu pai, Manoel, falecido faz bastante tempo. Ele me chamava quando criança de “vivinho vovô”, era um senhor de bigode fino e tão gentil e amável com os netos. Lembrei do pai da mamãe, também chamado Manoel, que nos deixou faz muito tempo, mas que é inesquecível por causa do seu chapéu, dos seus passos e postura firme, e que me pegava no colo e enxugava as minhas lagrimas de filho mimado...e quando a enfermeira veio me chamar, eu senti a benção deles e um sentimento que me dizia: “Não tenha medo, sua hora chegou!”
A gente traz um filho ao mundo por isso, para que ele tenha a mesma oportunidade que a nossa, a de nunca ser esquecido, para ter a chance de amar e ser amado sem medidas....