Sopra o vento, sopra o vento, sopra alto o vento lá fora; Mas também meu pensamento tem um vento que o devora. (Fernando Pessoa)
Há muito tempo que não te escrevo, não que não me faltasse papo ou novidades para lhe contar, mas sim inspiração. Porque vivo dessa maneira, sempre ao sabor do meu estado de espirito ou da maré do mar que vibra e segue quebrando tão longe daqui. Assim não te escreveria só por escrever, minha mensagem quando longe de mim precisa ser demasiada para que seja entendida, sabe? Precisa é se abrir como flor ou sangrar como veia aberta.
Estive num outro lugar distante, numa outra latitude onde as pessoas eram bem interessantes, mesmo em outra língua eu compreendi seus sorrisos e suas transatlânticas alegrias e acho que elas entenderam meus ruídos e minha presença terrena. Aliás, um dia, ainda pretendo tentar descobrir porque é mais forte quem sabe sorrir. Um simples sorriso e já nos sentimos compreendidos e aceitos em qualquer lugar.Nos sentimos queridos só por causa de um sorriso.
Estamos já a beira de um novo ano, é quase Natal, e nós aqui de novo, supremamente expostos aos nervos doentes da matéria, a toda essa loucura extrema do imediato, a essa violência com a nossa alma obrigada a fabricar alegria sem estar completa ou preenchida. Tenho pena dessas pessoas que não são nem sequer imorais, que não são nem bons e nem maus, são sim inatingíveis por qualquer reflexão, porque de tão alienadas que são nem sequer podem ser estar sujeitas a salvação ou a condenação.
O vento lá fora sopra e estremece minhas janelas, chove muito, temo ter deixado alguma delas aberta e a chuva possa molhar meu quarto, minha cama, minhas roupas, minhas gravatas, minhas lembranças, meu tapete, minhas cortinas, meus anéis, meus sonhos e a minha vida, por isso paro por aqui, mas com a promessa de continuar outro dia. Boas festas a gente se encontra por aí, em qualquer lugar, mas bom mesmo será se puder vir me ver lá, no último andar...