Rasqueado*
Cidades de Mato Grosso
Mário Zan e Arlindo Pinto
Obrigado, prima Odília. Sua carta trouxe notícias, alegria, recordação. Tentarei sintezar o sentimento. Isso de que me lembro passou há mais de 60 anos.
Você mantinha gabinete dentário na casa da vovó Madalena, de quem é sobrinha. Tratava, com esmero, os dentes de todos, inclusive dos fazendeiros e trabalhadores da redondeza. Sem dúvida, serviços mais simples. Era, assim, a nossa odontóloga.
Ao anoitecer, cantávamos e tocávamos violão no curral, em cima de um coche (aliás, com seu talento, fazia tudo sozinha, e eu apenas tentava acompanhar). Eram momentos lindos, inesquecíveis. Quando eu errava a nota, você -- boa profissional, inteligente, esforçada (e bonita!) -- com paciência e didática, informava como deveria ser. Abríamos e encerrávamos o nosso recital (por assim dizer) com esta música, de muito sucesso na época:
"Chego até ficar maluco
Com rasqueado apaixonado.
Esta música penetra
No meu peito amargurado.
Faz lembrar do Paraguai,
Essa terra boa irmã.
Faz lembrar Porto Esperança,
Faz lembrar Ponta Porã.
Meu prazer seria ouvir
Rasqueado a vida inteira.
Faz lembrar as noites lindas
Que passei lá na fronteira.
Lembro então Porto Murtinho,
Bela Vista e Corumbá,
Três Lagoas, Campo Grande,
Aquidauana e Cuiabá.
Três Lagoas, Campo Grande,
Aquidauana e Cuiabá."
Saudades, prima querida! Se Deus quiser, em breve nos veremos!
* Brasília, DF, 07 de Setembro de 2020.
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