Era domingo e ainda tinha um sol pendurado no horizonte. Era quase fim de tarde, mas era pouco fim pelo tanto que ainda cabia acontecer. A cena deixou Alice perplexa. Tinha uma ponte, cabanas feitas com plástico preto, barracas de acampamento, casas por conceito. Morada, abrigo. Famílias inteiras cabiam naquele pedaço de idéia. Não tinha endereço e o mais grave de não ter endereço é não poder receber correspondências. E que notícias de outras terras eles podiam esperar? Todas, mas nenhuma que os fizessem voltar. Porque vieram de lá. São forasteiros vivendo em embalagem de plástico preto. Sem rótulo. Sem data de validade, mas perecíveis a olho nú. As crianças brincavam no espaço destinado à grama, era tempo de seca e ventava um pouco. A diversão era contar placas com final 8 e correr para todos os lados. Mas era domingo e ainda tinha um sol pendurado no horizonte. A cena deixou Alice perplexa. A mulher varria a entrada da casa e era chão de terra. E a mulher varria a terra e varria e podia varrer por todo o dia.
Não consigo achar um fim para a história de Alice, como para muitas histórias que cercam minha vida. Um ponto final. Um ponto seguido de moral, Sim, parece-me, pelo menos agora, mais fácil falar sobre os modos de proceder. A mulher varria o chão de terra, mas o que ela de fato varria? Varria apenas a idéia de varrer. E o que era varrer na nossa história? Impelir diante de si.