O amor vem do encantamento diante de uma coisa desencantada
De surpreender-se com algo que já não tinha surpresas
De observar por um àngulo cansado de ser visto
E ainda sim ficar admirado com aquilo que é familiar.
O amor vem de muitos términos e de muitos começos
(mais de términos do que de começos)
Vem da lágrima de felicidade
Do riso nervoso
Do choro interior
Da melancolia gostosa
Da solidão por escolha
E de outros paradoxos.
O amor vem sobretudo do arrependimento
Arrepender-se de ter sentido raiva, de ter sentido pena, de não ter sentido nada
De ter desejado uma outra vida
De ter planejado sozinha
De ter estado longe, ausente.
O amor vem também da vergonha de ter sido negligente
De viver no passado, mesmo que só no pensamento, e ter entregue o presente ao “Deus-daráâ€
Vergonha de ter deixado algumas diferenças serem encobertas no lugar de discuti-las
De não ter sido leal em deixá-las claras por não querer aborrecimento
Vergonha de ter vivido uma vida paralela, sozinha
De ter excluído o parceiro por achar que ele não entenderia seus sentimentos
Vergonha de ter falado mal, ter comparado, ter criticado injustamente, ter fechado os ouvidos
Vê-se que o amor não é um estado de espírito, como a paixão.
O amor é postura de vida.
É se encantar, querer, arrepender-se, envergonhar-se
E por fim mudar até achar que está fazendo o outro feliz.
O amor vem do compromisso e da atitude de querer bem.