----- Em meados de 1981, compus um Fado, considerado inovador para a época, e que minha companheira de então, fadista considerada, lançou em primeira mão. Como de momento não me lembro exactamente dos versos e não tenho o texto à mão, descrevo-o em prosa.
----- Um casal que acabara de fundir-se nos olhos avança, ao anoitecer, por uma praia deserta, deixando sobre a areia as peúgadas, até um rochedo onde se acoita e consuma o querer de ambos. No regresso, duplica as peúgadas pelo mesmo trilho e vai-se afastando do local onde se iluminou à vida.
----- De repente, uma onda enorme estendeu-se até subir-lhes aos joelhos. Abraçaram-se, riram felizes e, entretanto, algo surpreendeu o homem.
A praia ficara exemplarmente lisa como se lá não tivesse passado ninguém "e jamais ali tivesse havido vida!" (último verso)!
----- Em finais de 1986 o Fado real consumou-se. O mar do tempo diluiu-lhe os diversos passos reais que tinha dado.