Recebi uma carta, no mínimo, curiosa. Era de um leitor indignado com um de meus trabalhos publicado em uma revista do sul. Dizia que havia perdido o seu tempo, impressionado pelo título bonito, lendo aquela trouxa de aberrações, loucuras e futilidades.
Não poupava desaforos e imprecações contra o meu deboche ao escrever tanta besteira junta.
Duas laudas inteiras com as piores palavras da lingua portuguesa: chamava-se de impostor, charlatão, dissimulado, enganador, traidor de leitores, enfim uma pensa de tabocadas e piparotes no pobre escriba de província e de horas vagas.
Parei na segunda lauda, sem muita vontade de prosseguir naquela tortura escrita. Refletí muito sobre a responsabilidade que nós, rabiscadores, temos sobre a consciência dos leitores.
Depois, recobrando a coragem, virei a terceira página...O leitor, pedindo desculpas, dizia que naquelas alturas, temia que eu, indignado, houvesse rasgado a carta e não tivesse atingido o ponto da revelação: eu, simplesmente, adorei o seu trabalho, por favor, escreva mais...
Sujeitinho estranho!