----- Seja o que for ou que não for, o pior e mais exacrável dos males terrenos, algo mesmo cuja dimensão obriga a maioria dos humanos a cederem ao medo, por exemplo, a morte - estou neste momento a escrever sério - nada, mesmo nada me influenciará em relação a Milene Arder.
----- Mais: da minha parte, o eventual inimigo que a Milene poderia vir a ter seria eu, mas esse "eu", o tal que já andou pela vida a fingir que era gente, está por mim absolutamente dominado e, se maugrado, lhe der para asneirar, mato-o de vez!
----- Poesias, meus caros, poesias, sobre o que do mundo levarei um dia como poesias, entre a esconsidade e a elevação de palavras, levarei Bocage, esse Zé-Maria que trambolhou na lama e deslizou no belo. Levarei Florbela, a espancada da sociedade hipócrita, a primeira das mulheres portuguesas que por si mesma soube e descobriu o esplendor de viver sem submissão carnal.
----- E, sabem que mais? Escrevam, escrevam enlevação, ainda que a critica voraz e desmedida tenha sempre assento no vosso tribunal mental com plena liberdade de expressão.
----- Também, por favor, façam como a Lúcia: guardem um segredo durante mais de meio século e, quando o revelarem, digam que o segredo já morreu, ou não digam nada, porque não vale nada mesmo engordar mistérios.
----- Leiam também, leiam tudo, o bom, o mau. Quiçá dirão talvez amanhã que o mau é que era bom.
Desatolem o raciocínio, abanem-no, entreteçam-no de enleio humano e ultrapassem as milenares condenações do espírito, cujo fito teve e tem por fim apenas explorar os mais fracos.
----- Boa noite e, por favor, possibilitem a paz e a harmonia à nossa Amiga Milene Arder.
----------------- Torre da Guia ------------------