Receber cartas sobre as coisas que escrevemos, muitas vezes, querendo lenitivo para as agruras do ramerrão diário, consolam e enternecem o coração da gente.
Alguém já disse, certa feita, que quando o homem reúne o dom da inteligência ao dom da palavra não existem barreiras que ele não possa suplantar. Eu acredito nisso. O coração,"velho e incansável caçador solitário", parece lançar teias invisíveis para o seu desiderato. Ele, como um felino rápido e de enorme força, ataca a sua presa direto na jugular, prostrando-a de modo inexorável.
Eu fiquei emocionado ao receber a carta que falava do Ângelus, crônica nascida de um final do dia, quando as lembranças da infância me assaltaram de modo inopinado, trazendo recordações da minha avó, ensinando-me a rezar a Ave Maria.
Muitas vezes eu penso, quando sou criticado pela minha fé inabalável na infinita bondade de Deus, que a gente deve conservar o nosso interior com uma certa pureza de criança, mesmo que a vida procure levar de roldão os valores que os nossos maiores nos incutiram...é que a felicidade não possui atavios, ela é simples como a água que brota das fontes, filtrada pela areia, imemorial, límpida; é como uma flor trescalante; um por de sol; uma poeira estrelar; um raio de luar; uma banana; um ninho pendurado num galho alto; um coração de menino.
Trago nos olhos o brilho das auroras boreais; trago nas mãos um punhado de flores silvestres; trago na alma um desejo intenso de servir com as palavras que escrevo, pelo menos, para que as pessoas sofridas e cansadas da lida desta vida, possam sonhar colorido e ter, pelo menos, minutos de enternecimento. E, para não fugir do clichê, muito obrigado.