Havia desistido de chamar-te. Mas é quase uma emergência, ou necessidade. Não sei bem.
Deixa o quentinho da tumba e vem à consulta, seu lerdo preguiçoso!
Vamos ao que, deveras, interessa.
Estava lendo as "defesas do Ayra-on" e outros textos que esse "enigmático" poeta tem escrito, usando-me como "alvo".
Chamo-o de "enigmático", sim. Pois entendo muito pouco do que ele expressa, em sua linguagem quase hermética e muito peculiar, que meus singelos neurônios quase não alcançam.
Joga bem com as palavras, dentro de sua realidade única.
Há uns poeminhas que me dedicou "Milene Arder - ode" e "Milene e o radinho de galena", aos quais eu agradeci o apreço, na época em que foram publicados.
Mas o Ayra-on progrediu... Andou em searas metafísicas... Ou talvez em outro planeta... E de tal forma transfigurou a linguagem, que passei a entendê-lo menos.
Que é inteligente... Quem pode negar?
Sabe o que diz? Posso afirmar que sim.
Se o acho bom?
Mas é claro! Pelo menos, sai do "lugar comum".
Onde outros dizem:
"-Isto, gente, é para colocar no espaço de artigos!
-Ei! Fidel é feio! O Lula é barbudo! O Ciro sibila. O Serra se afia. Garotinho morde a cueca..."
O pequeno Ayra fala pausado, com a voz meio que atrofiada, pela sábia posição que lhe deu a larga experiência.
Ayra nunca foi preso, nem reprovado na escola, nunca arranhou os joelhos, porque nem jogava bola... Ayra, aquele menino obediente, estudioso, sempre limpinho e airoso...
Sonhava, um dia, em ter muitos filhos, mas a vida mostrava uma realidade pouco "promissora" e Ayra cismou com outras idéias. Talvez escrever suas memórias e deixar para a posteridade. Resolveu um filho ter, para que sua linhagem não se perdesse no ocaso de uma vida, num planeta tão insignificante...
Mas, um dia, recebeu uma mensagem interplanetária e viu que tudo o que imaginava nada mais era do que "ver no além"... E certificou-se de que era um Ser Superior.
Nossa... Freud... Houve pane em meu cérebro. Em vez de te consultar, acabei por receber-te em forma de "encosto" e, a esmo, fiz a análise...
Fica como "psicografia freudiana de Milene sobre Ayra-on"