E continuo a pensar tanto tanto em você.
Jana me perguntou se isso ainda acontece todos os dias
E acontece sim
Penso e lembro todas as tardes desse Nelson tão lindo que é você
E ouço os “Mil-tons” sempre quando vou dormir.
Passou
A tempestade toda se foi
E esqueceu comigo essa mágoa e tristeza grande.
Mas já não choro mais como antes
(aquele choro de medo imenso da vida sem a gente)
Hoje, eu choro por puro sentimentos mesmo.
Durante muito tempo fiquei correndo, correndo,
correndo tanto sem ter chão nenhum sob meus pés.
E eu vagava sempre.
Me entregava e adormecia em braços alibidinosos.
Braços que se prendiam em mim e,
como uma trepadeira, ia escalando meu corpo e tudo o que sou por inteira.
Quase nunca sem aquele velho cenário
de arandelas e outros refletores.
E eu que sempre gostei muito da palavra
e de toda sonoridade das arandelas,
justo eu, justo eu,
iniciei uma fase de matá-las a cada noite, a cada dia,
mesmo quando tentavam subitamente penetrar janela adentro eu as matava,
com uma precisão infalível e com tanta força.
E durante algum tempo (longos minutos ou até horas)
meus olhos suavam demais
e a forma com que meu corpo chorava é indizível.
E, meu corpo, de tanto chorar, começava a soluçar,
atingindo assim, o clímax da sua tristeza.
E à minha cabeça vinha aquela já conhecida
sensação de oco, de leveza, de prazer ...
e prazer que me custava tanta tristeza, tanta ausência de mim.
Não sei dizer se foi sofrimento.
Ainda acho que desconheço o que é sofrer.
Mas fiquei muito triste.
E pensei de verdade que fosse morrer.
Morrer de tristeza.
Morrer, e dessa vez para sempre.
O tempo passou mesmo.
E eu fiquei quase estagnada.
E apesar disso, um novo amor me aconteceu.
Amor sim! Isso mesmo.
Talvez woodyalleniano demais, mas ainda assim, amor.
Esse que apareceu todo discreto
e sendo tudo aquilo que fazia com que eu ficasse irritada
e tão longe de mim.
Confesso, eu quis novamente transferir a saga
de tentar enxergar um Nelson meu
naqueles olhos pequenos e nos seu signo solar tão siamês.
Mas ele é tão bonito que, mesmo não sabendo da missa a metade,
bloqueou essa minha tentativa, se mostrou,
abaixou os escudos e me fez novas propostas.
Saldo positivo (ou não!):
Me apaixonei.
E é muito possível que este seja de fato o meu casamento.
Eu que tenho uma tendência gigante à minha avó materna
- uma espanhola forte, grande –
e que no entanto, deixou-se morrer de amor pelo meu avô
de nome com letras idênticas ao do meu amor.
E me satisfaço plenamente com a vitamina G que este me oferece.
Com todo o colorido fosco da primeira letra invisível do seu nome.
Talvez seja com este mesmo que eu morra feliz para sempre.
E, como você bem deveria saber, é tudo o que eu mais quero.
Hoje é quinta-feira.
Desde criança sempre gostei muito desse dia da semana.
Queria te encontrar na terça, conversar e não te olhar nos olhos.
Você me deixa nervosa, tensa.
Você me deixa tão tímida.
Eu não gosto de você para mim.
Eu só gosto de você.
E gosto muito mesmo.
Com Hugo eu não preciso dar cambotas.
Estou certa da graça que tal coisa nos proporia,
mas seria só mais uma coisa.
Criamos tantas coisas!
Temos um mundo inteiro de coisas próprias.
As cambotas não são imprescindíveis para nós.
Com ele eu converso comigo.
Com ele me divido inteira, mesmo que silenciosamente.
Divido meu silêncio e a minha solidão.
Sou muito eu. Sou triste.
E essa também é uma forma de continuar sendo egoísta.
Mas estou contente.
Assim como está você, com a ajuda da sua farmácia atualizada.
Temos que continuar sentindo muito
Senão, a vida perde o sentido.