Georgina,
li outra vez hoje o seu texto "Glauber Rocha - I", em que você nos traz trechos do livro "Cartas ao Mundo". Você os escolheu a dedo e passam de fato a nítida imagem da figura controversa de Glauber Rocha, diretor de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", entre outras obras que marcaram para sempre nosso cinema.
Eu, como já lhe disse, não conheço em profundidade o tema. Lembro-me de filmes de excelente qualidade daquela época, como, por exemplo, "O Pagador de Promessas", com Leonardo Villar, dirigido por Anselmo Duarte [por sinal, galã das famosas "chanchadas" da Atlântida - hoje vistas com outros olhos pelos críticos - quando contracenava com os grandes Oscarito e Grande Otelo - que foi elogiado pelo Orson Welles - e a mocinha Eliana, que era sobrinha do Watson Macedo, diretor e produtor] e que recebeu prêmio do Festival de Cannes, honraria concedida a pouquíssimos filmes nacionais.
Lembro-me de "O Padre e a Moça", com Paulo José e Helena Inês, "Rio 40 Graus", de Nelson Pereira dos Santos, "Macunaíma", com Paulo José, Grande Otelo, Dina Sfat e Jardel Filho, "Todas as Mulheres do Mundo", de Domingos de Oliveira, com Paulo José e Leila Diniz [bom, aí acho que sai fora do Cinema Novo, não é mesmo? (risos)].
E, também, "O Cangaceiro", primeiro filme nacional a ganhar um prêmio internacional, com Vanja Orico e Alberto Ruschel; "Vidas Secas", uma obra prima de Nelson Pereira dos Santos; "Menino de Engenho", baseado no livro de José Lins do Rego; e, numa fase posterior, "Dona Flor e seus Dois Maridos", com Sônia Braga e José Wilker; A Dama do Lotação", com Sônia Braga; "Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera", com Adriana Prieto; "Noites do Sertão", baseado no livro de Guimarães Rosa, com Débora Block; "Gabriela", com Sônia Braga e Marcelo Mastroianni; "A Ostra e o Vento", uma bela metáfora, com Lima Duarte etc.
Bom, voltando ao Glauber Rocha, ele me pareceu ter sido um tipo obsessivo e muito idealista. Achei divertida a declaração de que ele não conseguia filmar uma cena de sexo que não parecesse um apocalipse, e me lembrei dessas cenas, não necessariamente filmadas apenas por ele, mas por outros diretores brasileiros também, que transpareciam realmente essa impressão.
Aliás, por falar em "ditadores com suas amantes", li, não me lembro onde, que os ditadores demonstravam em casa a sua "outra face", ou seja, eram verdadeiros "cordeirinhos", enquanto que grandes cientistas, escritores e pensadores faziam o mesmo, demonstravam a sua "outra face" e em casa se comportavam como autênticos ditadores!
Coloquei há pouco um novo conto na Usina, "Sílvio e suas Viagens", que é, o próprio conto, uma "verdadeira viagem" imaginativa. Quando escrevo, vou à "estratosfera", já basta o dia a dia, em que temos que manter nossos pés bem ao nível do chão.
Você não vai acreditar, mas tive que reescrever este conto por inteiro! É que, depois de escrevê-lo (pela primeira vez)respondi àquela pergunta idiota que o computador costuma fazer, se é para substituir o texto, e cliquei erradamente no "sim". E lá se foi meu texto para o espaço!
Aliás, com o meu último livro, "Os Homens Pássaros", aconteceu o mesmo, e perdi mais de dez poemas com "a brincadeira"!
Abraços,
Abilio