Faz calor aqui no Rio
(Preto), o céu pronto a despejar
fria água neste dia escorrendo no ano.
Sentinela, corro fechar as janelas
enquanto o céu esbraveja
e vejo o teu rosto no desenho das nuvens.
Dias assim: atenuantes
(o teu rosto na minha saudade)
me enleva
e me leva a escrever,
sem deixar de ser redundante.
Mas se falar em saudade
é repetir todas as letras,
não falar é improbidade,
principalmente na minha idade
tão próxima do fim,
nessa cidade tão longe
do mar.
E por falar em mar,
penso montar algum dia
uma barraca de coco,
aos pés das ondas,
em qualquer lugar sem maresia.
Assim, vendedor-pensador
à luz do luar,
devorar do mar o seu oco mistério
e, por fim, me encontrar.
E por falar em fim,
me despeço finalmente
esperando que a minha tristeza
não contamine a tua alegria,
mas que esta venha na resposta
como a alquimia
de um longo sorriso
e a esperança de um beijo.
p.s.: sejas minha sócia, talvez a gente também se descubra.