Não pretendo dizer nada de novo. Você sabe de tudo o que direi. Resolvi apenas repetir para registrar não só o que já disse, mas a minha humildade em dizer de novo. E devo dizer, devo registrar, para também atestar toda admiração que tenho por você. Admiração essa que, ultrapassando o princípio, se transformou num amor puro, sincero e profundo. Um amor enjaulado nos séculos que nem Platão poderia prevê-lo.
Confirmo a você esse amor novamente através das palavras, pois sempre será assim, através das palavras transformadas em emoção. Palavras que ganham significados e poder. Que ganham asas e voam à altitudes nunca vistas. Que ganham formas, cristalizadas, possibilitando o tato. Assim as palavras tocam, acariciam, unem corpos jamais dimensionados pela visão, senão a dos sonhos.
Não saberia dizer mais nada nem explicar de outro jeito. E, também, não acredito que alguém, que não tenha vivido semelhante relacionamento, pudesse entender, compreender como, aprisionados numa grande paixão, pudéssemos nos resignar desse desencontro físico e aceitar a enorme realidade. E, mais que aceitar, alimentar esse sentimento que é pura unção, prazer supremo e redenção sem limites.
Assim somos nós, à margem do mundo, à margem de qualquer paradigma. Assim somos nós, unidos pela poesia, cujo fruto proibido é o poema em versos unificados.
Assim somos nós, amantes da ilusão, cuja realidade já foi promulgada num sentimento sem posse, sem face, sem regras e fronteiras.
Nada mais que possamos fazer, não há início nem fim num gesto como esse. Nada que ninguém possa fazer, não há razão comum que a crença admita.
Despeço-me então beijando as suas mãos que constroem versos com a clareza, o perfume e a esperança de cada amanhecer.