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Cartas-->para eles -- 23/11/2002 - 03:48 (Esther) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Gostaria de ter nascido homem. De certa maneira é uma explicação para a minha fraqueza, ter nascido sob o sexo feminino. Espero não me fazer compreender como machista, o que não sou de maneira alguma, apenas reconheço em minha paranóia e melancolia o fato de ser mulher. Não quero meus peitos, ou minha vagina, é tudo muito vulnerável, covarde, frágil demais, não quero mais sentir esse peso nas costas, a dor de ter parido o mundo.
Desejo enxergar no cotidiano elementos óbvios, como os homens da minha vida. Percebo como eles me estranham, quando meu irmão, já impaciente, pergunta: já vai começar a chorar? E eu respondo: não. Com os olhos embaraçados de água e as lagriminhas teimando em pular sem minha autorização, contra a minha vontade. Quando meu pai sabe que tenho vergonha das pessoas, e me recluso, ele sente pena.
Sábia a minha mãe, já dizia que homens e mulheres são iguais coisa alguma, isso é notável desde a própria anatomia. O homem com o sexo externado, invasor, e a mulher com o sexo úmido, interno. A analogia parece grotesca, mas faz sentido, essa dicotomia existe sim, mesmo não sendo absoluta. Os homens são de marte e as mulheres de Vênus, decididamente.
Quero que eles entendam o que descobri, tenho convicção absoluta de que a dor que eu sinto, esse choro que não consigo segurar, esse aperto no peito, é a dor de Maria, de Iemanjá, das mães, das putas. De cada alma feminina nesse planeta que pede socorro, que não tem mais forças para encarar o desamor e o amor, é tudo por demais forte. Eu quero ser homem, passar ileso por essa vida, macho.



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