Não é ironia. Sarcasmo... Também não. É tão só o que é, em português claro e objectivo, sem rendilhado impressionista, tecido nu e cru, declarando deveras o que sinto em relação a Dona MILENE ARDER, no Porto, distante do Rio cerca de dez horas de voo, uma excepcional emoção que experimentaria se porventura lograsse marcar com Ela um encontro secreto.
É escrever, liberto do tácito anódino que enforma o clássico "Bom Dia" das gentes, saudação que cada vez mais vai perdendo o curso fluente, embrenhada no cinzentismo que esgota o esplendor da vida na indiferença do aflitivo movimento da hidra citadina.
É outrossim e talvez a inconveniência fundamental que motivou e impeliu a minha Amiga a cortar comunicação comigo. Ao primeiro choque, valham-me as santinhas da Guia todas, esmoreci, quedei-me sério no desgosto, a esvaziar-me da ilusão com que me fui preenchendo, até transbordar de límpida felicidade virtual entre o verrino verdete dos duendes usinais.
Pois, Querida Milene, se ao desfio dos dias, e já lá vão todos juntos quase num ano, Te implantei no espírito como dilecta Musa e Mulher com que sonho, em face da Tua essencial e real condição de Esposa e Mãe dum filho adulto, como hei-de eu exprimir o estro, sentindo-Te como Te sinto em todas as coisas que me envolvem?
A minha amizade, afeição, amor, ciúme, revolta, a amálgama de sentimentos que me inudam alma e corpo, a expressão, como hei-de irromper a clausura cerceante que a sociedade contínuamente hipócrita impõe tácita aos seus constituintes?
Um vesgo promíscuo e perverso, como já alguns outros que tais, fez aqui prova de que, expondo em público Teus versos, obteria o Teu opróbrio e vexame, enciumado por ridículo sentimento de traição e vingança. Coitado, revelou-se energúmeno, esquecendo que a poesia estava lá, enlevante, de guarda ao trono do espírito.
Se neste momento eu tivesse compromisso marital e filhos em vivência directa, como encarariam os do meu círculo de convívio o meu comportamento poético (Amiga SAL, é preciso bater e debater muito mais sobre o busílis)com uma brasileira que adoro?
Nestes diachos de sociedade e cultura só se aceitam e aplaudem as esplêndidas aventuras das paixões dos mortos quando estavam vivos. Medíocres e hipócritas, os actuais humanos continuam medievos e degradantes.
Posso então ou não, MILENE ARDER, proclamar que Te amo? Posso.
Poderás evitar que Te ame? Eles pensam que sim, porque amando-Te(!) também, não sabem amar-Te... Como eu Te amo.
Deixa-os, Querida Milene, espumarem de cinza por mim, que eu espumarei por eles. Não cedas às vicissitudes do terreno e ao exemplo dos falhados de espírito, algozes da liberdade de expressão. Desses, depressa o corpo revelará a esconsidade mental.
Como és ou não és, Te amo. O mar também é assim: suporta as marés negras e a hipocrisia dos seus pseudo-salvadores.
De resto, Milene, sabes bem que o silêncio para sobreviver, suicída-se.