Foi encontrada, nos escombros de uma casa de favela em São Paulo, incendiada acidentalmente por causa de uma lamparina de querosene, a seguinte carta para Papai Noel, escrita por um garoto que morreu vítima de queimaduras durante o sinistro:
Papai Noel,
Meu nome é Antônio. Tenho 9 anos. Moro numa casa de madeira aqui na favela. Meu pai é pedreiro. Minha mãe é lavadeira. Eles não me dão brinquedos porque não tem dinheiro.Estou escrevendo mais uma carta para você. Peço sua atenção. Vi na vitrina da loja de brinquedos um carro vermelho muito bonito. Será que eu posso ganhar um?
Se não der, porque são muitos meninos pedindo e eu ouvi meu pai dizer que a situação está muito ruim, pode sere um menorzinho, também vermelho, que eles colocaram num lugar quase escondido da vitrine, o senhor sabe qual é, não é mesmo?
Olhe, Papai Noel, eu tenho sido um bom menino. Frequento a escola. Ajudo minha mãe com as trouxas de roupas e ainda, todo sábado, trago meu pai do boteco onde ele toma umas cachaças. Minha professora diz que sou bem comportado e inteligente.
No ano passado, Papai Noel, eu sei que não foi por ruindade, o senhor se esqueceu de mim. Esperei um presentinho, mas a minha meia ficou vazia. Veja se este ano eu tenho sorte. Olha lá, Papai Noel, não estou lhe pedindo muito. Aqui perto tem uns meninos que fizeram uns pedidos bem grandes.
Boa noite, Papai Noel, tenho que ir dormir. Amanhã bem cedo tem escola. Eu não quero chegar atrasado.
Assinado
Tonico Silva
Ele se foi antes do Natal, consumido pelo fogo que queimou o casebre.
