Pedro, o papai sonhou contigo, com tudo o que aconteceu em nossas vidas, com a minha vida madura, e com a sua ainda pequenina vida. Sonhou também com o que seremos no dia do regresso. E eu te espero. Espero como os vaga-lumes esperam as noites e os campos
Pedro, no sonho o papai pensava que existia entre nós, uma coisa quase intransponível, lírica, romântica e cheia de delírio, e eu chorei, e no meu sonho fiz um mar de saudades de ti. Naquele lago grande, em vez de peixes, vivia a nossa história: tubarões-saudade, baleias-solidão...
Naquele lugar, existia uma caverna funda, tão profunda que eu me perdia, e a única forma de encontrar a saída, era ficar quietinho dormindo, até encontrar de novo a porta do dia.
Quando acordei, tive outro acesso de saudade-carinho, e abracei tudo que tem o teu jeito. Depois do que compreendi, abracei todas as coisas que vi. Abracei alguns brinquedos que ficaram esquecidos na minha casa, e parecia que todos tinham a tua cara olhando e rindo pra mim. Abracei meu corpo que fez o teu corpo, porque é a coisa mais viva de ti que existe em mim. Depois pra não ficar correndo e querendo abraçar tudo, deitei no chão, abracei o mundo e adormeci.
Pedro, como o amor é cego, eu fecho os olhos e te vejo. Como a distância é surda, eu choro em silêncio, sem lágrimas, só pensamento.
Mil beijos do papai. .
Essa carta foi escrita quando meu filho tinha menos de três anos. Então guardei pra poder mostrar depois que crescesse e pudesse compreender as coisas que estão escritas aqui. A carta já foi lida...