Eu já escrevi alhures que a vida é uma fábrica de saudades, no evolver caleidoscópico dos dias ela vai fazendo e desfazendo sonhos, aproximando e distanciando as pessoas, colocando-as em nosso ângulo de visão e dele retirando-as, mas em tudo o gosto agridoce deste sentimento herdado dos avoengos lusitanos.
Pois bem, você aportou aqui no meu gabinete na década de oitenta e por aqui espalhou a sua simplicidade, os seus hábitos morigerados, a sua dedicação, a sua lealdade, a sua colaboração inestimável.
Acompanhou o chefe amigo em diversas viagens de trabalho, para o sul e para o norte, sempre com a mesma disposição.(conversando sobre as bergamotas do Prunes em Porto Algre ou ouvindo as observações do Regis, em Natal).
Era de vê-lo, tanto no gabinete da Casa Branca quanto no do Anexo, curtindo o radiozinho e dedilhando, primeiramente, a IBM eletrônica, depois, o teclado do computador, digitando os votos e os acórdãos, estranhando as palavras ilegíveis da minha péssima caligrafia.
Ultimamente, aguardando a jubilação, você ficava mais ali, preso na sua sala, pouco puxando conversa, como se fosse um personagem de uma comédia que deseja retirar-se silenciosa e discretamente, tal como passou os seus dias de labor.
Então, agora que se consumou o seu pedido de aposentadoria, confesso que nutro uma saudade boa de sentir, curtida nas lembranças de suas peripécias tão comportadas.
Mas, um favor eu lhe peço, não deixe de nos visitar sempre que o seu ócio remunerado lhe permitir. As portas estarão sempre abertas, você bem o sabe.
São meus desejos, com toda certeza, compartilhados por todos quantos fazem o Gabinete, que você goze longos anos de merecida jubilação, preparando encontros da sua igreja, paparicando os seus netinhos, na companhia de D. Irene e dos seus filhos.
Deus lhe guarde!