À Cátia Mathias
Que, gentilmente, pediu-me que publicasse o soneto inteiro de Drummond...
CARTA
Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias...
Eu mesmo envelheci. Olha em relevo
Estes sinais em mim; não das carícias
(Tão leves) que fazias no meu rosto.
São marcas, são espinhos, são lembranças
Da vida a teu menino que, ao sol-posto,
Perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes, não é tanto
À hora de dormir, quando dizias:
"Deus te abençoe"! E a noite abria em sonho...
É quando, ao despertar, revejo a um canto
A noite acumulada de meus dias
E sinto que estou vivo e que não sonho...
(Carlos Drummond de Andrade)
* Peço desculpas, se a pontuação do soneto não estiver de acordo com o original.
Tive que digitá-lo de memória, pois não localizei a obra em que se encontra.