Eu não sou apenas a minha obra, mas também sou ela e parte dela. Não escrevo sobre o que não sinto, ainda que eu necessariamente não seja protagonista dos meus enredos. Fotografo através da palavra, as emoções: minhas, do meu vizinho, de pessoas com quem nunca falei, mas que me contaram histórias através de um olhar...e quando faço isto, sou eu também. Não concebo esta visão fragmentada ou departamentalizada do indivíduo.
Num certo aspecto, a obra de um artista sempre será maior que ele, pois quando a exprime, é captada por outros olhares, que também acrescem expressões, emoções e novas nuances ao que está aparentemente acabado. Tenho sempre em mim esta impressão do inconcluso, quando componho...tanto que raramente uso pontuações em minhas poesias...penso que continua em um outro olhar a vibração do meu sentir. E isto revitaliza-me, inspira-me, pois fico a imaginar as imagens que vão surgindo em cada palavra lida e as sensações tão particulares que ocorrem a cada verso sentido, tocado.
Não é mesmo função da poesia despertar emoções, tocando os olhares da alma? Quando escrevo, tento através do verso, não apenas alinhar letras, mas afagar corações. O escritor "usa" a palavra como instrumento de sedução. E, falo da sedução no sentido mais amplo que ela possa ter, que é o de encantar, atrair...o artista vive do olhar do outro, da multiplicação da própria emoção naquele que o contempla.
Grata pela possibilidade de refletir contigo. Tem sido prazeroso este contato e as descobertas que resultam dele.