Do shopping
Paty não sei do quê. A distância não permite ler o nome completo, que está tatuado em letras góticas, em seu corpo, próximo ao pescoço. Disperso-me. Recebo do balconista o pastel e catchup. Não gosto e gosto de catchup. Não gosto misturado ao pastel. Aquela poça e aquele gosto adocicado me lembram sangue. Gosto dele puro. Expelido com toda força, saindo do invólucro por um orifício milimétrico. O suficiente para dar chance à mucosa acostumar-se. Paty gosta de catchup? O gosto dela e ela em si não tem a menor importância. Mas saber o sobrenome, sem saber o por quê, sim. Furo o invólucro, provo-o e saio apressado à procura dela. Na segunda prova aperto-o e nada sai na minha boca. Aperto-o com mais força e nada. Esqueço Paty na multidão e olho para o catchup. Percebo que está todo espremido. Noto a camisa empastada como se houvesse uma mancha de sangue. Manchas que aumentam com o passar dos dias; que mesmo lavandas com água e sabão nos enganam, como enganam o paladar as pitadas de catchup, que tem gosto de sangue na boca de quem não gosta de sangue. De fato, a Paty, em si, não tem a menor importância.
LIZIAS