Bem, conforme lhe prometi, fui hoje revisitar a sua quaresmeira. Esperei encontra-la tão florida quanto nos dias em que fomos vê-la juntos e que, prazerosamente, procurou pelo chão as sementes que pudessem gerar novas plantas para plantio em nossa propriedade.
Ao mesmo tempo, seria uma oportunidade de estar junto a você, nem que fosse só no pensamento, porque são sempre suas as horas que estou vivendo nesta solidão.
Mas, ao me aproximar já percebi que havia uma diferença: as flores quase todas tinham caído e, em lugar delas, folhas e mais folhas. É bem verdade que eram folhas novas de um verde bem intenso, mas não podiam ser comparadas às flores, carregadas de tons róseos de uma beleza encantadora.
Aí, então, comecei a pensar de mim para comigo mesmo, as flores se foram porque você também se foi sem avisa-las de que regressaria logo. Elas, iguais a mim, não sabem ficar sem você, perdem a graça, não têm para quem se exibir, pois as pessoas que passam por lá, empoleiradas nos seus carros, nem se dão conta daquela beleza gratuita que Deus nos põe diante dos olhos.
As lições que tiramos das coisas são bem interessantes: o que é belo para mim, o que é importante e realmente conta no balanço dos meus dias, mor das vezes, nada representa para o meu vizinho.
Com toda certeza, a quaresmeira está esperando a sua volta para voltar a florir, pois eu também, do meu cantinho solitário, só voltarei a sorrir de boca larga quando você estiver aqui junto de mim.