A casa está vazia.
Está tão grande, que o meu coração sozinho, não consegue preenchê-lo.E em silêncio vou ouvindo os passos, vou ouvindo as vozes,palavra por palavra daquelas boquinhas desenhadas das minha netas, a desesperar a saudade.
O cão e o gato se acolhem em baixo da cama emudecidos de tristezas, como se já tivessem acostumados aos carinhos das meninas, e agora não sabem como fazer.Por outro lado o corredor imensamente deserto, seguido pela lembrança desordenada dos brinquedos, que todos os dias eu tinha que fazê-las arrumar.
Parece que foi ontem, que elas me pegavam pelos braços e me arrastavam ora para o mercado, ora para feirinha, ora para o bosque, ora para brincar de enfermeira, de médico, de roda,ora para costurar, ora para tomar banhoa e no fim, quando já iam descansar a famosa, hora da história para dormir.Era o conto do sabiá, da onça, do lobo, da velha, da flor, do canário, da figueira...era o conto da cigarra.
Confesso que me cansava, mas gostava daquele calor, daquelas mãoszinhas sobre as minha madeichas esbranquiçadas, aquela atenção de olhos sarados e do silêncio que faziam para sentir a imaginação nos levar ao reino encantado do amor que eu sempre dividir e sempre recebi delas.Do amor, que tantas e tantas vezes juntas inventamos no embalo da rede, ao cair da chuva, ou quando a luz faltava.
É a tarde foi caindo,vocês crescendo, e sob uma chuva cautelosa, aos poucos foi sentindo algo apeando o meu peito, apeando o meu peito.Fui arrumando um jeito de ficar assentada a beira da cama, e a olhar entristecida o mundo vago ao redor, ao redor de uma solitária solidão que inquietou-me a alma, vi as lágrimas contarem uma história pra eu dormir e descobrir a saudade que vocês deixam todas as vezes que vocês vão embora.
Ah! como a casa ficou grande depois que vocês se foram!