A cama ao chão coberta pelo lençol e o mosquiteiro. Numa noite apagada, com chuva espessa sobre o telhado de barro amarelo, adormeciam as luzes do abajur e ninavam D. Wilse no divã do seu travesseiro solitário.
Enquanto sorrateiro e opaco, o silêncio era surpreendido por passos esgueirados entre os livros da estante. Um corpo asqueroso e sempre repudiado a olhos nus deslizava.
Naquela escuridão, quando a hora havia estacionado, só os ouvidos atentos de D. Wilse viajavam na imaginação do que poderia, àquela hora perturbar o seu sono.
Meio que assustada, com as mãos tremulas, o peito a palpitar e a respiração descontrolada. Ela, de um impulso com as mãos deu vida ao abajur, que iluminou um quarto da estante, duas dúzias de livros e uma nesga da cama.Enquanto os seus olhos desesperados procuravam, procuravam e nada encontrava, sobre o mosqueteiro descia, a desfilar uma barata.
Quando D. Wilse ergueu os olhos para o alto e teve a visão...um grito seguido de desmaio desarmonizou toda à noite.Levantou-se os netos, os filhos, a filha, o cão, o gato e até a sabiá, lá da gaiola se pronunciou.
Assustada a barata voou em direção a Maria, filha de D. Wilse, que mais que depressa se abaixou.Depois a desesperada babata, como falava a netinha Maira, rumou a sala. E toda aquela comitiva de pessoas, com sandálias, detefons, pedras e paus, em romaria a seguia.Até que, numa parada inocente, e até inconsciente do inseto, pousou no chão, bem em frente à televisão.Como uma torrencial, as coisas desabaram sobre a pobre, que teve o seu fim, em dores lá no quintal.
Três horas da manhã, foi à hora da agonia, foi o fim de uma correria, foi quando nós, após a água com açúcar, para a vovó e uma longa discussão com os netinhos para explicar, o por que dos porquês, pudemos dormir um pouco, naquela noite de inverno.