As paredes úmidas tinham gosto amargo e as manchas que as escalavam, disputavam em tamanho. Tentavam esconder esses borões por trás daquelas prateleiras enferrujadas que cuspiam folhas amareladas e por cadeiras de madeiras, também já destruídas pelo tempo. E ali que estava Aluísio.
Não acreditava em vê-lo em uma delegacia. O desespero e a angústia invadiram-na. A garganta sentia aquele gosto amargo, o chão parecia fugir de seus pés. A caminhada até seu filho levou longos segundos. Ele, indiferente, olhava para o horizonte, hipnotizado por alguma coisa.
Dúvidas surgiam em sua cabeça: “Por que ele estava ali? O que havia feito? O que aconteceu?”
Ela viu, através da janela translúcida, a sala do delegado. Logo esse viria fazer aquelas perguntas. Olhou novamente seu filho que, aos poucos se tornava um estranho.
Enfim abraçou-o, mas ele não reagiu. Enquanto seus braços enrolavam em torno daquele corpo magro, as mãos dele estavam entre as pernas, presas por uma algema. Subiu seus olhos marejados até os dele. Pareciam mortos e o verde possuía um brilho opaco.
No hall do hospital, as paredes brancas exibiam montanhas, paisagens, lugares; a natureza dali era calma. Sobre o balcão da recepcionista, um vaso transparente com azaléias artificiais bem feitas, e atrás dele, pendurado na parede de cor creme, um relógio analógico que caminhava pelos minutos silenciosamente.
A porta à esquerda anunciava um corredor iluminado, por onde ela vinha carregando em seus braços, seu primeiro filho e talvez o único. Depois de oito meses, entre enjôos e riscos, o brilho daqueles olhinhos verdes que impressionavam todos, ela cuidaria para não cair na escuridão.
De repente, um homem de bigodinho seboso e caspas sobre os ombros, tocou-lhe a braço. Ela, então, voltou à delegacia. Ajoelhada diante de Aluísio, levantou-se e cumprimentou o delegado Azevedo e os três fecharam-se naquela sala.